terça-feira, 2 de setembro de 2008

A pergunta que se faz a Ewerton Clides

por Ewerton Clides

A pergunta mais comum que se faz a mim, Ewerton Clides, é:

- Por que você não fez USP?!

Ela é sempre seguida de um suspiro esnobe que, pura ironia!, é utilizado normalmente por pessoas que fizeram USP!

Para uma pergunta, várias respostas.

Primeira resposta: Eu não fiz USP por ter orgulho suficiente de não querer ter meu nome sempre seguido de uma sigla. Imagine você se meu nome fosse: "Ewerton Clides, da USP"? Isto me deixaria tão nervoso, que o sujeito, querendo agradar, tomaria um magnífico susto. Saiba que até enrubesceria. Sabe de quê? De ódio!

Fora o orgulho, nunca tive a burrice de depender dos outros para ter inteligência. Para as pessoas com este tipo de burrice que criei o Instituto EWerton Clides, o IEW, onde se discute e se aprofunda a sociologia ewertonclidiana de Ewerton Clides. Para uma pequena amostra da inteligência que sempre me foi natural, veja um texto que fiz aos oito anos de idade:

"Normalmente seria normal normalizar a normalidade normalista das normas normativas da normatividade normalizadora anormal."

Notou que aos oito anos fiz um texto de um nível que você não atingirá mesmo aos 60 anos, na flor da idade?

Creio que se tivesse feito USP, esconderia de meu currículo.

Como não está em meu currículo que fiz USP, você deve pensar neste momento que eu escondo, devido à frase do parágrafo anterior. Bem. Eu esconderia, mas se estivesse escondendo, jamais diria que esconderia.

Segunda resposta: Não fiz USP por sempre ter planejado um instituto com meu nome. A maior burrice que se pode ter é a de fazer propaganda ao adversário. Pois não seria somente o Instituto EWerton Clides que seria o instituto de Ewerton Clides. Também seria a USP.

Se com o contingente enorme atual de sócios já é difícil manter o Instituto, imagine você com a USP tendo essa propaganda?

Este deslize, garanto a você que não cometi. Aliás. Você já viu o Bill Gates com um Mac em sua mala?

Eu também não.

Terceira resposta: A USP fica muito longe de minha residência, por isso não estudei lá.

Eu, Ewerton Clides, valorizo cada minuto de meu dia. Imagine você um minuto sendo desperdiçado. Agora imagine um minuto desperdiçado diariamente. Então como seria um minuto por dia por oitenta e sete anos, que é a idade que tenho atualmente?

Quanto tempo eu teria perdido para a sociologia no caminho para a USP!

Quarta resposta: Eu teria muito trabalho ao ensinar a verdadeira sociologia aos professores de sociologia e não seria sequer remunerado.

Todos os professores que encontrei até hoje têm muita honra em ter-me encontrado. Eu poderia dizer o mesmo, se não fosse mentira. Detesto professores, porque eles têm o ar de que podem sempre ensinar alguma coisa. Pegam o guardanapo professoralmente, contam uma piada professoralmente, falam de sociologia professoralmente.

Eu, que sou o inventor da verdadeira sociologia - ou o reinventor da sociologia - não falo neste tom. Por que os outros poderiam falar?

Fora que eu, Ewerton Clides, sei qual é o jeito certo de se pegar guardanapo. É assim, ó.

Quinta resposta: A Juliana não estuda lá.

terça-feira, 26 de agosto de 2008

Cafu é meu

Eu, Ewerton Clides, tenho notado um fenômeno muitíssimo interessante.

Uma coisa que lhes adianto, é: não sou o único que notou o fenômeno muitíssimo interessante.

É o fenômeno dos livros que debatem a relação entre cães e donos de cães. Começou com o dono do Marley. Não quero nunca ler o livro que ele escreveu, mas achei tão aprazível que o título do livro seja Marley e eu. Eu achei bonito não pelo título em si, senão porque ele disse o nome do cão e não disse o dele. Eu sei o nome do Marley e não sei o dele.

Foi um ato de uma humildade estupenda. Se não fui de humildade, foi de burrice. Mas prefiro pensar na humildade, já que ela inspirará os leitores nesta tarde de terça-feira.

Mas este texto é para explicar que a moda começou quando surgiram boatos de que eu, Ewerton Clides, estaria fazendo um livro deste tipo. Não era verdade. Porém, as pessoas não se preocupam com a veracidade quando há o nome Ewerton Clides no meio.

Inspirado pelo boato, comecei a fazer um livro sobre minha profunda relação de carinho e afeto com meu cão, quando me dei conta que teria graves problemas autorais. O nome dele é Cafu. O Cafu, jogador de futebol apenas mediano, não perdoaria e processar-me-ia de modo inapelável. Portanto coloco aqui neste belíssimo blog um pequeno trecho do esboço do meu livro. O nome do livro seria: "Cafu é meu". Vamos ao trecho.

"Cafu é o cachorro mais burro que já conheci. Demorou cinco anos para aprender a sentar seguindo ordens. E demorou mais 13 anos para abrir portas sozinho. É claro que a porta tinha que estar entreaberta para ele abrir. Mas ele esticava a patinha, abria, e mesmo eu, Ewerton Clides, não ousaria lhe dizer:

- Cafu! Não foi você que abriu! Na verdade, a porta já estava entreaberta.

A ousadia, eu teria. Mas não perderia meu tempo, porque Cafu é burro e não sabe decifrar as palavras humanas.

Cafu morreu.

Se antes eu sonhava qualquer coisa, acordava e vivia o Cafu, depois disso eu passei a sonhar com o Cafu, acordar e viver qualquer coisa. Esta frase, plagiei de André Cintra. Claro que é muito sentimental, e não é sociologicamente viável em um texto. Claro também que não corresponde à realidade, já que sonho sempre com Juliana e vivo Juliana. Mas é muito, muito bonita."

O ônibus de Ewerton Clides

Perguntam sempre a mim, Ewerton Clides, o porquê de eu andar sempre de ônibus, não de carro, moto, motovan e de bonde.

Sempre digo que a motivação maior é a de que em ônibus, é possível que se faça um maior número de estudos sociológicos. Posso ver uma criança conversando com a mãe e fazer-lhe alguns questionamentos; posso sentir o nervo acirrado do motorista quando passa por uma lombada, ou até mesmo a angústia do cobrador quando não há troco possível.

Tudo isso me seria impossível em carro, moto, motovan e em bondes. O carro me sufoca. Me sinto tão apertado, que me dá vontade de desabotoar minha camisa marrom, num tremendo desvio sociológico! Além de balançar e me dar vontade de tomar dramin.

Não sei dirigir motos. Assim, tenho que abraçar o motorista. Não abraçava nem minha avó, vou abraçar o motorista?! O pior das motos é que elas me obrigam a abrir as pernas, numa exposição terrível.

Motovan, eu não sei o que é. E bondes já não existem mais.

Mas o que mais me espanta, que me deixaria de cabelos em pé se eu tivesse cabelos, é a desatenção profunda do leitor.

Você, leitor, me imaginou em um ônibus repleto de gente. Quanta desatenção, minha gente! Mas quanta desatenção, repito, minha gente!

O leitor não imaginou que meu ônibus é privativo. Só eu ando nele e observo pelas janelas todo o mundo sociológico por fora.

Imagine eu, Ewerton Clides, andando em um ônibus, de pé?!

Saibam que também sou ecologicamente correto. Ouvi dizer que andar de ônibus é muito mais conveniente à natureza do que andar de carro.

A faxineira e eu

Há um certo tipo de faxineira que detesta tudo o que faz.

Pode limpar esplendorosamente o quarto do vice-presidente da república, arrumando perfeitamente a coleção de pedras antigas que estavam jogadas no armário, alisando a roupa de cama para que o sono fique ainda mais agradável e deixando o carpete subliminarmente cheiroso. Pode cumprir outros itens que lhe garantam elogios casuais ao presidente, que não se gaba de sua capacidade.

Claro que a organização das pedras antigas não estão genericamente organizadas, de modo que qualquer entendido saiba se localizar. A organização das pedras desta faxineira fictícia é feita para que somente o vice-presidente — também fictício — saiba onde está cada pedra.

É um serviço que pode somente ser feito depois de muitos anos de serviços prestados ao senhor vice-presidente. E também com muitos estudos sobre localizações macro geográficas e micro geográficas. Pensei em dizer que este trabalho é resultado de muitas broncas, mas se a nossa faxineira levasse uma bronca, somente uma, pediria demissão. Porque faxineiras deste tipo são sensíveis.

Por isso que eu, Ewerton Clides, sempre falo aos que perderam a paciência com as faxineiras que, se elas continuam trabalhando, é porque não são boas faxineiras. A boa faxineira é sensível, orgulhosa e pediria demissão.

Pois eu, Ewerton Clides, ao contrário do tipo de faxineira mencionado neste mesmo texto, adoro tudo o que faço.

Até mesmo este texto é adorado por minha pessoa. Confesso que o reli até esta parte por várias vezes, todas com lágrimas por trás dos óculos.

Uma vez, tive uma pedra no rim que me fez doer demasiado. O doutor me disse:

- Ewerton Clides, extinguiremos esta pedra a laser!

Eu lhe respondi que:

- Não, doutor! Não tem como abrir meu rim para tirar esta pedra? Fui eu que fiz!

A operação foi marcada para o dia seguinte, e o doutor notou assim que a viu pela primeira vez, que uma pedra de Ewerton Clides é preciosa demais para ser expelida naturalmente.