quinta-feira, 20 de dezembro de 2007

natal #3

Recebi muitos comentários - não neste blog, senão pessoalmente - sobre os últimos títulos neste espaço.

- Ora, Ewerton Clides, por que você escreveu natal no título com letra minúscula se estava no comecinho?

Para não se confundir com a cidade, Natal.

Eu, Ewerton Clides, nunca enunciei a cidade Natal em textos meus - antes deste -, mesmo considerando o nome da cidade interessantíssimo. E mesmo sem saber nada da cidade.

Este é um esclarecimento para embranquecer o que claro está: falo sobre natal, a data comemorativa; não sobre Natal, a cidade.

quarta-feira, 19 de dezembro de 2007

natal #2

O meu natal é sempre passado sozinho, com o retrato de minha mãe.

Minha mãe detestava o natal, é por isso que nesta data faz tanta falta. Detestava o natal e maldizia Jesus e todos os que comemoram onatal. Uma vez, disse:

- Espero que morra sem fazer nada de importante, para que ninguém comemore a minha morte desse jeito!

No natal eu, Ewerton Clides, aproveito para utilizar roupas menos sociais.

natal #1

O natal lembra a mim, Ewerton Clides, que as pessoas não se lembram mais do natal.

É o natal que as lembra.

O natal lembra que elas vão ganhar presentes, que elas vão dar presentes, que vão comer peru na casa da tia - ou da vó, em alguns casos, em algumas casas -, viajar para ver a família, ou até mesmo que vão se livrar um pouco da família para ficarem sozinhas.

Jesus Cristo foi um grande homem, embora tenha morrido cedo, embora tenha morrido porque quisessem que ele morresse.

Jesus morreu para que dois mil e sete anos depois as pessoas comessem peru?

Não sei.

Sapatênis

Eu, Ewerton Clides, sou comumente chamado de sociólogo.

Assim como os chimpanzés são comumente chamados de chimpanzés nos zoológicos - nas ruas e nas selvas são chamados de macacos; os operadores de telemarketnig são chamado de operadores de telemarketing; os jogadores de futebol são chamados de jogadores de futebol; e os jogadores de basquete são chamados de bombadinhos.

Já foi dito aqui muitas vezes que enquanto os poetas se vangloriam de resumir um grande assunto em um curto espaço de texto, os sociólogos se orgulham se expandir um pequeno assunto em um enorme espaço de texto. E nós temos a razão.

Matematicamente falando, o poeta pega uma expressão: 9x + 9ac + 9284bw = 203489234. Dela, diz: Por que não um virgula cinco, pessoal?

E o sociólogo pega o um vírgula cinco e transforma na expressão: 9x + 9ac + 9284bw = 203489234.

Agora vamos à verdadeira teoria do dia, já que falamos mal dos poetas e dos que fazem coisas inúteis à vida, como poesia, banho e malabaris.

Estava eu, Ewerton Clides, andando em uma movimentada rua de São Paulo.

(Não uso sapatos com cardaços, já que o risco de ele desamarrar é grande. Mas neste dia, coloquei um sapato com cardaços por engano.)

(Se eu não uso sapatos com cardaços, o bom leitor deve ter indagado: "Por que Ewerton Clides tem sapatos com cardaços já que não os usa?" Resposta: Comprei porque achei bonitinho.)

Quando uma moça veio à minha direção e disse:

- Você não é o grande sociólogo Ewerton Clides?

E eu era o grande sociólogo Ewerton Clides.

- Ewerton Clides, o seu tênis está desamarrado.

Desconsiderei o que disse a moça. Nem olhei ao meu sapato. Ora, se uma moça confunde tênis com sapato, certamente pode conffundir cardaço desamarrado com cardaço amarrado. Para os transeuntes não pensarem que destratei a moça, disse-lhe:

- Nove e trinta e quatro.

Assim, pensaram que ela havia-me interpelado somente para perguntar as horas, que fortunadamente eu tinha já na cabeça.

Andei mais alguns passos, quando tropecei aleatoriamente.

Era meu sapato, que estava desamarrado. Pisei em cima do cardaço e tropecei.

Mas engana-se quem pensa que a moça tinha razão. Ocorreu que o cardaço desamarrou após ela ter-me dito aquelas baboseiras sobre tênis.

Olá,

Meu nome é Ewerton Clides, e eu raramente começo um texto com uma saudação. Por isso, minha leitora, veja neste texto - além da raridade sociológica presente sempre nos textos escritos por mim, Ewerton Clides - a excentricidade de um Olá.

Toureiros dizem Olé!, mexicanos dizem Ôla!, seres humanos têm olho!, e eu lhe digo Olá!

(Não lhe perguntarei se está tudo bem. A concessão sociológica de hoje termina no Olá!)

Vim não para fazer concessões sociológicas. Vim para dizer sobre narcóticos. Mas não estou preocupado com as famílias nacionais que perdem crianças para as drogas. Crianças que trocam a mãe por um craque que não joga bola. E que fumam deselegantemente uma droga de nome também deselegante. (É maconha, a droga! Mas não vou dizer aqui, porque é muito deselegante!)

Porque eu, Ewerton Clides, sou viciado em uma garota de maneira mais profunda que uma criança se vicia em uma droga. Ela esquece a mãe, mas a escuta. A mim, se me dizem mãe, pergunto: "De quem?!"

Sou viciado numa garota, mas ainda assim faço sociologia. Paixão sociológica.

quinta-feira, 29 de novembro de 2007

Quê?

Milhões de pessoas lambem os lábios para deixá-los mais secos, mesmo que este ato os deixem - os lábios - mais ácidos.

Uma vez, vi três sujeitos parados na rua lambendo os lábios. Perguntei-lhes por que lambiam os lábios, uma vez que milhões de pessoas lambem os lábios para deixá-los mais secos, mesmo que este ato os deixem - os lábios - mais ácidos.

Enquanto eles respondiam, tive a idéia de usar este pensamento no começo de um texto. Pois este pensamento me desviou da resposta, e disse-lhes:

- Quê?

"Não sabíamos que ficava mais ácido", eles respondiam. "Mesmo de posse desta informação, não pararemos de lamber nossos lábios: a sensação é ótima."

Se eu disser que eles disseram tudo isso juntos, unissonamente, você acreditaria? Bem,

(A separação de parágrafo após esta vírgula foi proposital.)

Você acreditaria porque seria dito por mim, Ewerton Clides. E uma pessoa pessoa como eu... Bem,

Uma pessoa como eu, não existe. Mas eu, Ewerton Clides, não diria uma mentira em um texto assinado por mim mesmo! Quando eu minto, digo: - Menti! E quando não minto, não digo nada: nem que menti, nem que não menti.

Curioso seria se eu dissesse que menti quando na verdade não menti!

Bem,

A razão por que fiz este texto é tal: - Há coisas boas que fazemos mesmo que nos façam mal. Tem gente que pula, mesmo que doa as articulações; tem gente que toma café, mesmo que não durma; e tem gente que fuma, mesmo que câncer.

E eu, Ewerton Clides amo uma moça, mesmo que o namorado dela me corte partes do corpo.

São Beneditino e os morangos

A paróquia de São Beneditino deve ser uma bela paróquia.

Se eu, Ewerton Clides, já a visitei? Nunca! Nem quero visitá-la. Creio que o nome Beneditino não é nome que se dê a uma pessoa, quanto mais a um santo tão famoso - não é preciso conhecê-lo para citá-lo.

(Dedico este momento do texto entre parênteses ao pai de São Beneditino. Devo desculpar-lhe por, ao batizá-lo, não saber que seu filho seria um santo. Mas ao se batizar alguém, é preciso pretensão! Requer saber que a criança pode tornar-se santa!

Por este equívoco, a humanidade por pouco que não perdeu um santo!)

No começo de minha vida sociológica, almejei muito que se lembrassem de mim. Como São Beneditino, gostaria que me citassem sem me conhecerem! Era-me honroso saber que depois de minha vida, continuariam lendo meus textos.

Mas com a consolidação de minha carreira sociológica, não me preocupei mais. Percebi que a verdadeira honra seria a das pessoas vivas, que leriam meus textos comigo já morto. E que seria impossível citar-me sem conhecer-me, já que sou conhecido por todos!

Eu tenho a honra que os morangos, por exemplo, não têm! Um morango, depois de morto, jamais será comido. Nem uma pêra, nem bife à milanesa, nem uma prostituta!

(Aqui, o sentido de prostituta que não será comida é o de não será comida canibalisticamente, não vulgarmente, sexualmente comida.)

O morango, porém, tem a honra de ser comido por mim, em vida, e evacuado, já morto.

Pintas & pintos

Eu, Ewerton Clides, determinei na década de 50 a classificação sociológica dos ruivos como nível interessante/interessantíssimo.

Ruivos, como se sabe quem os olha por uma vez, têm muitíssimas sardas. E, apesar de não serem cenouras, abóboras, ou mesmo laranjas, são laranjas! As sardas é o que nos interessa; a cor laranja, coloquei aqui para dar-nos diversão, embora pareça um desvio sociológico. Mas como este texto é escrito por mim, Ewerton Clides, o leitor logo se apercebe de que o desviado é ele, não eu.

Ora. Já cometi muitos desvios sociológicos. Não queria continuar falando sobre isso, porque é uma divagação plena e absurda, mas vocês leitores pedem como se fosse de uma verdadeira graça que eu me desviasse sociologicamente.

Vocês perceberam a graça do parágrafo anterior? A graça nele está na mentira de que já cometi muitos desvios sociológicos! A sociologia é uma faixa de pedestres na qual só podemos pisar nas faixas brancas. O resto, o asfalto pode onde os carros passam, não nos interessa! O que fiz agora foi pisar na faixa branca, com o flanco do sapato encostando o asfalto.

Depois limparei meu sapato.

Mas eu falava de ruivos. As pintas deles são valiosíssimas em nossos estudos porque nunca estão sós. Os ruivos que se prezam sempre possuem inúmeras pintas. E como um conjunto, são dignas de serem estudadas.

Já as pintas sozinhas, urgh, têm até pêlos! Desculpem o desvio sociológico ao inserir neste texto uma onomatopéia, mas pêlos me eriçam os pêlos que me restam na nuca!

Tudo isso para, agora, falarmos de pintos. Eles são amarelos e vieram de uma galinha.

Quero dizer, meus leitores sociológicos, é que adoro ver que nasceu um pinto novo, pois assim um ovo deixou de ser fritado.

E eu, Ewerton Clides, detesto ovo frito.

sábado, 24 de novembro de 2007

Comunicado importante

Este blog não mudou de endereço para http://www.anamariabraga.com.br, portanto continue visitando http://www.ewertonclides.blogspot.com se quiser entrar em meu blog.

Ewerton Clides

sexta-feira, 23 de novembro de 2007

Amores invertebrados

Quando alguém corrige a mim, Ewerton Clides, digo:

- Parabéns pela ousadia, mas você está errado.

A ousadia é muito engraçada e, assim como quem me corrige, errada. Ela é como a baunília que ressalta o sabor. Porém a ousadia ressalta a burrice ou ressalta a inteligência. Pois corrigir-me é uma grande burrice, está claro. A burrice ousada.

Mas hoje não falarei sobre burrice ousadas. Nem sobre touradas.

- E torradas?

Não, obrigado. Está servido?

Hoje vim para falar sobre os amores invertebrados.

São dois, os amores. Os vertebrados e os invertebrados.

Os amores vertebrados são comumente mais fortes que os invertebrados, porque têm um osso bem no meio do coração, dando-lhe sustância dura. É, pois, uma força. Mas uma força que atrapalha!

Queridos leitores da sociologia ewertonclidiana: Quando se ama, a vontade é a de expremer o coração da pessoa amada como se expreme uma laranja lima para se fazer um suco de laranja lima!

- Para quê?

Não sei! Mas a gente expreme deliciosamente! E o que fazer quando se tem o osso? Se retira o osso!

Os amores vertebrados são, assim, um amor imaturo, pois que precisam ser vertebrados.

Os amores invertebrados iniciam-se na hora da retirada do osso do coração. Neste exato momento, ele fica mais fraco, sentindo a falta do osso. Há os amores que resistem e os amores que não resistem. Os que não resistem, se ressentem do osso, o querem de volta.

Sabe onde estava o osso? Sabe onde ele foi depositado? Não? Eu também não. Ninguém sabe onde está o osso, pois quando o tira, é no afã de que nunca mais irá precisar dele!

Mas depois da falta do osso inicial, os amores invertebrados ficam fortes e indestrutíveis como em uma música serteneja! Forte como não é meu corpo, forte como é a minha sociologia.

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Em outro dia, dei a alguém uma paçoca como prova de um amor invertebrado.

Vi que ela recebeu a paçoca com grande devoção - mesmo não a tendo comido - e desconsiderou o recado do amor invertebrado uma fanfarronice sociológica. E não era.

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

O nome medicinal

Quando eu, Ewerton Clides, passo mal ou tenho alguma indisposição, vem um médico para tratar de mim. Digo-lhe:

- Doutor. Você é médico, estudou em alguma universidade deveras capacitada onde teve as melhores notas possíveis; fez diversas residências de 24 horas; estudou como um camelo em um mundo imaginário onde camelos estudam; atendeu pessoas ilustres - não tanto quanto eu, é verdade, mas ilustres; fez uma belíssima clínica em um bairro luxuoso; fez outra belíssima clínica em um bairro pobre para tratar de graça de crianças; fez milagres magníficos em casos em que todos os outros médicos não teriam nem idéia do que poderia ter sido feito; enfim, o senhor é um médico magnífico. Mas doutor, você não se chama Juliana.

Bife

Enquanto comia um bife no almoço de hoje, percebo que alguém olha fixamente em meus olhos pretos cor de carvão.

Penso: - Certamente ele sabe meu nome - Ewerton Clides -, conhece minha obra - leu as Obras Completas do Ilustre Sociólogo Ewerton Clides -, e lê meu blog de internet. Neste momento, corrijo-me a redundância: se é blog, é de internet.

Olhei para o teto e bufei. O garçom, meu conhecido - conhecido meu, mas não sou conhecido dele -, aproximou-se com a faca e o garfo, cortou meu bife simetricamente em 8 pedaços. Eram sete pedaços de aproximadamente um centímetro quadrado. O oitavo media 1,5 centímetro quadrado. Tudo sem gordura.

Distraí-me exatamente deste jeito - pensando no bife - para não pensar no sujeito que olhava fixamente para mim e não comia nada no restaurante. Garfei um bife fortemente e olhei para o moço:

- Sim?

Ele disse-me que já havia almoçado. E como quem fala comigo casualmente, pediu para deixar um recado à Juliana:

- Diz que ela é mais bonita que a ressaca da praia de Santos. E que ela me emociona mais que Mário Quitana e que o nascimento do meu sobrinho! Ôpa! Mas isso foi ela que falou para mim. Não é isso que eu quero que você fale para ela. Pensei alto, Ewerton Clides!

O moço me agradou por sua demora, assim eu poderia comer meu bife frio. Adoro bife frio!

- É só para você falar para ela ver o site www.ideiasmutantes.com.br e ver o texto que eu fiz pro meu cachorrinho! Não deixa de dizer que ela é bonita, tá?

Juliana. Se você ler este texto, lembre-se: Você é muito bonita. Mas não falo porque o moço falou. Falo porque você é.

A loura

Quando vi uma moça loura e bela que pegava uma paçoca na Bomboniére, pensei: - Quanta coincidência!

Porque eu escrevi um texto na última quinta-feira pensando justamente na paçoca que a moça que eu seguia comprou!

Escapoliu-me dizer que a moça estava sendo seguida por mim. Apesar de eu dedicar árduas horas à sociologia, não pude me conter. Deixei de ler 14 livros feitos por mim mesmo para acompanhar esta mulher. Sociologia me perdoe; me perdoe também mamãe, a finada mamãe Clides. Ah, sim! Também necessito pedir perdão ao senhor namorado dela, a quem devo minha castração. Me perdoem por isso:

- Esta mulher é mais bonita que a sociologia! Prefiro olhar o rosto dela a ler uma página de um livro difícil com palavras arcaicas! É melhor ver o dedinho dela, que ver uma nota de rodapé! E ainda tem tantos dedinhos no pé (contei dez, sendo cinco no direito e cinco no esquerdo). Dez dedinhos tão lindos! A orelha dela tem mais graça do que a orelha de um livro com a minha foto!

E é imprescindível dizer mais da paçoca.

Fui muitíssimo questionado por preferir paçocas ao capitalismo. Os socialistas comemoraram, mas lhes tiro o prazer como a mãe que tira o dedo do filho da cavidade nazal. Prefiro paçoca ao socialismo, também. E prefiro aquela paçoca diante de todas as outras paçocas. A paçoca que ela escolheu.

Minutos depois desta cena, vi o André - ser que digita os textos para mim, Ewerton Clides - com o envólucro desta mesma paçoca na mão. Foi a ele que pedi perdão. E foi ele quem castrou-me. Ele disse:

- Sabe a paçoca que estava dentro deste papel branco em cujo centro há um belo coração desenhado? Dentro do coração, Ewerton Clides, está escrito AMOR sing´s, PAÇOCA, PESO LÍQUIDO: 28g. Desculpe-me, Ewerton Clides, perdi-me nas especificações paçocais. Posso começar esta fala novamente?

Sim.

- Sabe essa paçoca que eu comi? Era para você.

Ela comprou uma paçoca para mim! A paçoca, eu já a preferia ao capitalismo. Agora, esta paçoca, eu a prefiro diante de qualquer coisa, menos da moça que primeiramente a pegou com a mão enquanto eu a seguia, e eu a viajava escondido ao longe.

quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A inveja é uma merda, portanto necessária

Muitos de meus conhecidos fogem do senso comum como se este fosse uma barata que mordesse, além de ser nojenta.

Eu, Ewerton Clides, sou o contrário. Eu não esbarro no senso comum, mas o persigo! Dependo dele como o músico depende do ouvido! Além do senso comum ser de fácil acesso, ele é o alicerce principal da sociologia. O senso comum é a aorta da sociologia! Ou a horta em que cada sociólogo cultiva no seu jardim para lhe rendem verduras sociológicas.

Eis que um amigo disse: "A inveja é uma merda!". A despeito do palavrão, é uma belíssima frase. Eu diria: "A inveja são fezes!". O efeito seria o mesmo, mas teria muito mais valor no mercado sociológico, já que seria divulgada como uma frase comum modificada pelo grande sociólogo Ewerton Clides.

Mas a grande diferença não é na semântica da frase. É no sentido que eu lhe emprego. O meu amigo diz que inveja é uma merda, como se fosse algo ruim, algo que melhor seria se não existisse.

E eu digo que inveja são fezes e digo que é preciso que faça-mo-la todos!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Onde deus fez a goiaba?

Em nenhum lugar, porque deus fez a árvore - e esta, por sua vez, fez a goiaba.

Se este texto fosse escrito por outra pessoa que não um sociólogo, você não estaria lendo até agora, pois a pergunta foi respondida. Se fosse escrito por outro sociólogo que não eu, Ewerton Clides, você ainda não estaria lendo, porque os outros sociólogos não escrevem na internet, portanto a pergunta seria lida, você leria a resposta e pensaria: - Não continuarei lendo, já que não é o Ewerton Clides, o único sociólogo que escreve na internet.

Aí, leitor, um erro seria cometido. Eu não escrevo na internet. Escrevo em casa, em papel amarelado, a lápis. Quem o transcreve na internet é André, moço contratado que o faz sem amor. E assim prefiro, pois se fizesse com amor, este poderia tirar-lhe a concentração de minhas letras e pular algumas.

Falo de André para testá-lo. Para ver como ele se sente digitando sobre si.

Às vezes cometo erros propositais para reclamar de André. Coloco um n na frente de um p, não acentuo uma proparoxítona, critico um sociólogo, tiro o pingo do i, não fecho um parênteses... e depois, se encontro o meu erro cometido depois da transcrição, acuso André por ter ele cometido o erro. Se não encontro o erro, acuso André por tê-lo corrigido sem minha autorização.

Após os berros, ele me olha e diz:

- Tá, peço-lhe perdão, Ewerton Clides.

E eu ergo meu nariz, despeitado.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Bom dia

Eu, Ewerton Clides, sou um sociólogo. E como não escrevi novidades nesta linha, posso passar várias sem me deparar com ela, a novidade. Acho melhor tentá-la no próximo parágrafo.

Eu, Ewerton Clides, não sou um sociólogo. Aí está a novidade! Mas, apesar de ser novidade, é também uma mentira. Melhor mesmo é iniciar o texto no terceiro parágrafo.

Eu, Ewerton Clides, não gosto de poesia. A acho sempre inútil e com perdas de tempo, com frosô, com firulas que gastam meu escasso tempo.

Mas estava eu passando por uma esquina, e uma voz me soou:

- Bom dia, Tristeza.

E eu, Ewerton Clides, sem ter por onde me esquivar, lembrei-me de como se responde no interior a quem lhe é sempre presente:

- Dia.

Formigas afogadas

Certa vez, quando eu, Ewerton Clides, tinha vinte anos, uma das serviçais de minha casa derramou água em minha fazenda de formigas. Morreram todas, e afogadas.

É claro que chorei. E é claro que só o fiz quando ninguém olhava. Chorei às pitangas pelos cantos, lamentando as formigas que nos cantos já não estavam. Nunca mais eu poderia impedir a fuga daquelas formigas.

- Mas Ewerton Clides, por que você não comprou outra fazenda de formigas?

Não comprei, porque eu sentia falta, repito, daquelas formigas, não de formigas simplesmente.

Porém, não sei se a época das pitangas se foi. Mas acontece que parei de chorar às pitangas. E nesta hora, o leitor menos arejado, mais distraído, poderá pensar que "o Ewerton Clides agora está bem! Agora o Ewerton Clides não está mais triste."

Engano do leitor, tão relapso, tão indolente.

Leitor, aprenda comigo, Ewerton Clides.

Há uma grande escala que vai da tristeza profunda à alegria suprema. E sempre estamos situados em algum ponto no meio desta escala. A gente chora, leitor, quando desce. E quando lê um livro de sociologia, ou se está apaixonado, esta sensação é a de subida.

E depois, se pára de chorar porque se acostumou com a vida triste sem a fazenda de formigas. Se parou de chorar, mas se vive muito mais triste.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A parábola

Muitas vezes falei da graça que se há em simplesmente dizer xixi, cocô ou catota.

Não que eu, Ewerton Clides, ria desta graça. Mas posso vê-la, ali, no meio da palavra, entre uma letra e outra. É claro que acham graça disso por uma reverberação dos instintos da infância.

- Ewerton Clides, você acha graça de quê?

Detesto interrupção nos meus textos. E mesmo que esta pergunta não viesse de uma interrupção, não a responderia. Porque hoje é dia de falar de urina.

Tomei o cuidado para não dizer xixi, que nada tem a ver com urina. Urina podia mesmo ser o xixi da criança, mas não é. Urina da criança é urina da criança, enquanto xixi é feito até por adultos. Vamos às diferenciações.

O que está dentro do potinho é urina, para crianças e adultos. O que é dito para se achar graça, é xixi.

(A cor dos dois é a mesma, mas o xixi pode ser amarelo claro quando a urina é amarelo escuro, e a urina pode ser amarelo escuro quando o xixi é amarelo claro. É claro que o xixi pode ser amarelo claro quando a urina é amarelo claro.)

Gosto de dizer que o xixi é o que é mencionado por um civil, e a urina é líquido amarelo proveniente de uma bexiga, mencionada por um sociólogo.

Então eu urinava de porta fechada. Percebe a redundância? Porque eu, Ewerton Clides, sempre urinarei e sempre urinei de portas fechadas. E o problema, leitor, não seria que me vissem com algo na mão expelindo líquido amarelo. O problema são o barulho e a parábola desenhada na trajetória. Se alguém visse, se alguém ouvisse! A sociologia seria outra.

E uma vez que alguém já teria ouvido, não teria mais razão em isolar acusticamente meu banheiro, e minhas habilidades de se urinar no escuro seriam em vão!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Se sou contra a guerra?

Comumente perguntam a mim, Ewerton Clides, se sou a favor da guerra.

Eu assusto-me com o teor da pergunta, e apresso-me a dizer que não, que sou contra a guerra!

Digo que não é bom que se matem crianças, ornitorrincos, mulheres, formigas, et´s, homens, baratas, cães, gatos, porquinhos da índia - mesmo quando a guerra não é na Índia - e chinchilas, por conta de motivos políticos. Digo que não há razão para se destruir hikebanas, bonzais, prostíbulos, fazendas de formigas, formigueiros, piercings no umbigo, óculos coloridos, e até ventiladores, por motivos políticos.

Mas quando me lembro que na guerra, os americanos matam pessoas anti-sociológicas, exibo um sorriso aristocrático, e volto à posição original o dedão que mexi para combater a guerra.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Anotações dispersas do diário de Ewerton Clides

Pequena nota da assessoria de imprensa: O sociólogo Ewerton Clides abriu, pela primeira vez em 83 anos, os seus diários para divulgação na mídia impressa.

em 21 de maio de 1958

Meu nome é Ewerton Clides, e não há nada em mim que tenha vindo de Itabaiana.

Eu gosto muito de Itabaiana. Esta cidade possui, acima de tudo, um belo nome. Pessoas, não sei, pois nunca fui a esta cidade e, principalmente, nunca li nada a respeito. A pessoa que nasce em Itabaiana seria duas vezes baiana, se Itabaiana da Bahia for.

em 23 de abril de 1947

A Revolução Francesa tem, para os burgueses, a mesma relevância que o gol tem para o futebol. Mas a minha pergunta é: - "Futebol? O que é isso?" O maior problema, maior de todos, mesmo, é o de que quando propus uma pergunta, fiz duas. Duas perguntas querendo perguntar uma coisa só.

É tanta coisa a se aprender...

em 23 de novembro de 1978

Alguma coisa maravilhosa acabou de acontecer.

Acordei, conferi meu grau de toxinas, e este estava normal. Então verifiquei se a classificação alfabética estava bem feita em minha biblioteca. Perfeita.

Chamei meu mordomo, e ele respondeu que não havia guerra nova. Liguei o noticiário e vi que não havia leite em cima da mesa. As lâmpadas de minha casa funcionam perfeitamente, e os espelhos refletem a mim, Ewerton Clides, quando neles em frente estou.

Recorri ao máximo de meu orgulho, e não olhei o horóscopo do jornal, apesar da insitência do mordomo, já citado nesta nota. A sociologia vem em primeiro plano, mas é a primeira vez que ela não me explica uma dúvida. Está tudo tão esquisito.

Abri a correspondência e fiquei com a impressão de ter lido, no meio da carta: "Boa nova do Rio Grande do Sul".

em 41 de junho de 1994

Continuo prolongando junho para não acompanhar a Copa do Mundo.

Calça

A calça me é essencial.

Dizem que ela surgiu porque era necessário que não se passasse frio nas pernas... Encerrei a frase anterior com reticências, foi possível reparar? As reticências devem ser a maior causa de suicídio! Porque quando se termina uma frase de reticências, percebo uma ironia forçada e macabra. Imagino a pessoa que encerrou a frase apresentando o semblante mais maroto que tem, com pose contorcida, polegar e dedo indicador abertos e movimentando-se indo e vindo, olhando-me de canto do olho.

Vocês não têm nojo disso?

Mas de reticências, falo depois... Agora é a hora do segundo maior nojo. O nojo que tenho de pernas à mostra!

As calças não foram feitas para que se proteja do frio. Eu as uso quando está quente, também! A calça foi feita para nos protegermos dos pêlos, dos rabos de meia, dos suores e dos odores provenientes de parte do corpo tão ingrata!

Eu, Ewerton Clides, vou de calça!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

nota da assessoria

Ewerton Clides é pego amarrando o cadarço do sapato

Na tarde desta terça-feira, no sol da cidade de São Paulo, as ruas do Centro viram algo inusitado e raro: Ewerton Clides amarrando seu sapato.

Isto seria muito costumeiro, não fosse a insistência de Ewerton Clides em toda sua obra na desnecessidade em se amarrar sapatos. "Creio que só amarra os sapatos quem tem sapatos, mas mesmo assim amarrá-los é risível, pois as pessoas se abaixam para um serviço ridículo!" é dito em trecho do livro "Rabujento, bujudo e pachorrento, mas com um sorriso abominável: sociologia", de Ewerton Clides.

"Amarrei porque compus outra teoria que complementa a de outrora. Nessa teoria - a ser lida no meu próximo livro, "A-tchim, um espirro sociológico" -, amarrar o sapato já não é risível, senão necessário!", diz Ewerton Clides.

Ewerton Clides não pretende amarrar mais os sapatos hoje, porque, segunda confidenciou, amarrou muito bem nesta tarde, "chegando até a doer um pouco a parte de cima do pé!", completa.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

nota da assessoria

A assessoria de imprensa de Ewerton Clides informa que Ewerton Clides pediu para que seja divulgado que ele possui, sim, pêlos no dedão pé.

Este mistério iniciou-se em 1967, quando Ewerton Clides - à época um dos maiores combatentes ao uso de filtro solar na ausência de praias - escreveu o livro "E se eu tivesse pêlos no dedão do pé?"

O título gerou por si só um grande interesse do livro, não bastasse o agudo interesse sociológico já produzido por o livro simplesmente ter sido escrito por Ewerton Clides. E quando respondia a insinuações contra este título já insinuante, Ewerton Clides corava e dizia que sempre utilizou meias, que bastava tirá-las para saber.

Em 1968, quando o livro seguinte de Ewerton Clides foi lançado (A sociologia na alcova), os rumores de pêlos no pé cessaram, e ninguém mais perguntou sobre isso de modo tão efusivo.

E agora, como para solucionar um mistério que já era desinteressante, Ewerton Clides chama de novo as atenções a si com algo que não possuía mais relevância.

Macambúzio

Eu, Ewerton Clides, pude ser visto macambúzio na última coluna social.

Meu motorista, ao ver a foto na revista, disse:

"Desmacambuza, Ewerton Clides, Desmacambuza! Porque veja, meu chefe. Você é o único sociólogo que tem um motorista com nível superior completo. Você é o único sociólogo que não precisa interromper elocubrações sociológicas ao entrar em seu veículo. Nunca vi você dizendo, bom dia, Jarbas, como vai? Porque isso seria a maior perda de tempo. Você tem é que estar satisfeito. E também porque você tem um motorista, no caso eu, Jarbas, que mudou o nome para ser seu motorista.

Eu me lembro direitinho. Eu chegando aqui, concorrendo para a vaga, e você disse, pára, Astrogildo, pára! Você vai ter que mudar de nome, porque Astrogildo não é nome para motorista. Você agora vai se chamar Jarbas.

E não fui eu quem fiz um crachá com meu novo nome somente para agradar o senhor?! Lembra, Ewerton Clides, lembra?"

Ele continuou o discurso com a idéia fixa de que eu não deveria andar com o ar soturno simplesmente por ter um excelente sócio-motorista. E sem querer, esta voz fina me deu uma idéia tentadora:

- Astrogildo, você está demitido. Você não tem a clara intenção de me deixar feliz? Pois a sua demissão neste momento me trará uma alegria imensa! Adeus.

Astrogildo parou o carro no canto da avenida, e eu não sei dirigir.

Unhas

Eu, Ewerton Clides, prefiro roer as unhas do que utilizar trins. Entenda a lógica do processo.

Quando eu utilizava trins, estes trins eram disputados como os anéis de uma princesa egípcia. Os grande críticos de minha obra irão objetar que não havia princesas no Egito. E eu mostrarei mais uma vez como são idiotas, estes críticos.

"Queridos Críticos,

Escrevo-lhes para dizer que justamente por não haver princesas no Egito, uma princesa que houvesse seria muito rara, portanto um anel dessa princesa seria raríssimo, portanto muitíssimo disputado. Sim?

Agradecidamente,

Ewerton Clides"

Então eu utilizava um trim cotidianamente e o deixava solto em cima de minha mesa. E o trim não era mais visto, pelo menos em minha mesa.

Poderia tentar comprá-lo pela internet? Não, porque na época não havia internet. E mesmo se houvesse, não conseguiria comprá-lo de lá, pois quem o tivesse, jamais colocaria à venda!

Além disso, as unhas iam para o lixo todas juntas, sendo assim fácil de confiscá-las.

É por isso que as rôo. Rôo discretamente, e ninguém rouba meu trim. As unhas, as jogo discretamente em alguma fresta de minha mesa.

Dores estomacais?

Eu, Ewerton Clides, não sentia dor aguda de estômago.

- Pois o que levou você, Ewerton Clides, a ser internado por uma dor aguda no estômago?!

Amor.

Eu soube que uma pessoa muito querida de uma pessoa muito querida a mim, está internada. O que fiz, então? Simulei uma grave dor estomacal, a fim de ser internado perto da pessoa querida da pessoa que me é querida. Simples de entender.

O que não é simples de entender é como consegui ser internado no quarto justamente ao lado do quarto da pessoa, e assim ver todos os dias a pessoa querida.

Foram dezenas de livros sociológicos distribuídos a todos os médicos, autografados por mim, Ewerton Clides. Até livros de outros autores, eu autografei. Pensei que nunca faria isso, mas com esta necessidade, sequer pestanejei!

Pois que a pessoa nem sabe que a estou observando todos os dias de dentro de meu quarto. E ela também não sabe que qualquer privação de comida, que todos estes remédios ruins, acabam sendo divertidos - divertidíssimos - por eu estar a vê-la.

nota da assessoria - Ewerton Clides é internado com dor aguda no estômago

A assessoria de imprensa do grande sociólogo Ewerton Clides informa nesta nota que o próprio Ewerton Clides sofre de uma dor aguda no estômago e encontra-se internado.

"Sinto uma dor aqui, ó", diz Ewerton Clides, alegando que o estômago dói muito. Quando informado que apontava não para o estômago, senão para o rim, Ewerton Clides foi enfático: "Dói meu estômago! E quem ousar desmentir ganhará um livro de sociologia autografado por mim, Ewerton Clides!"

Ewerton Clides não tem previsão de alta. E, segundo ele próprio, Ewerton Clides, "quanto mais ficar aqui, melhor. Dor de estômago aguda tem que ser bem tratada!"

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

[Banheiro Público

Eu, Ewerton Clides, fui ao banheiro público logo após o almoço. Acima do vaso sanitário, havia um aviso propondo que não se utilize o vaso sanitário como cinzeiro.

Foi nesta hora, enquanto urinava, que me lembrei de que fui convidado para um baile da terceira idade! Eu, esperto, sei que ninguém me convidou pelas minhas habilidades na dança. Pela minha simpatia, também não, porque não sou simpático! O que assombra, foi que não me convidaram pela minha capacidade sociológica. CONVIDARAM-ME PELA FAMA! Para os folhetos de divulgação terem escritos "O Baile da Terceira Idade terá a presença do grande Ewerton Clides!".

A raiva foi o primeiro sentimento a que pude me segurar, como se seguram nos postes e corrimões as damas famosas de cinema americano - em filmes antigos, claro - quando há uma grande ventania. Quando o vento passou, vi a sociologia triste em um canto, chorando. Ela chorava por eu ter me lembrado da raiva antes dela!

Ficou de bico por quatro dias.

Então pus-me a pensar sobre o baile da terceira idade. E aqui caberia um título entre parênteses, porque é praticamente um novo texto inserido em um texto maior. O texto, em seu começo, a partir do primeiro título, fica entre colchetes. E agora, entre parênteses, como numa operação matemática, o baile da terceira idade.

(O baile da terceira idade

Eu, Ewerton Clides, nunca participei de um baile da terceira idade. Mas já observei muitos, sendo eu observador em várias idades.

Quando criança, via no baile da terceira idade um grande acontecimento, por lá estar minha avó dançando ao centro. Ela fazia caretas e errava passos para chamar-me a atenção. E eu olhava para os flancos do baile, fingindo que não via em minha avó, quando na verdade via, chegando a me ofender quando ela não fazia nada.

Uma tarde não houve sinais. Fiz um bico do jeito que fiz há pouco ao saber do desprezo aos meus conhecimentos sociológicos. Minha avó foi falar comigo, e naquele dia não respondi. Mas no dia seguinte, abracei-a como nunca antes.

Pois foi pelo desprezo de minha avó que descobri a sociologia. Naquela noite, ao invés de ler um livro, escrevi um livro. E assim ingressei-me na sociologia ao contrário do jeito das pessoas comuns.

Bem. O baile da terceira idade é tosco como o das crianças. A diferença única entre os dois é a de que as crianças são toscas por quererem se aproximar aos adultos, e os velhos são toscos porque já desistiram de se aproximar aos adultos.

Mas prefiro o da terceira idade frente ao das crianças e ao dos adultos.

Frente às crianças, é fácil dizer. Porque as crianças são altamente influenciáveis. Os velhos lá estão apenas divertindo-se, dando amplas aberturas às demonstrações sociológicas.

E prefiro o da terceira idade ao dos adultos, porque os adultos são tecnicamente perfeitos. E como perfeitos, não cabe análise.)

Eu, Ewerton Clides, então dei a descarga, ocupado com outro pensamento.

Ora. O aviso para não se usar a privada como cinzeiro é pertinente. Mas é essencial pedir para não se usar os cinzeiros como privadas!]

Clipping Ewerton Clides

Ewerton Clides não nega: sua careca coça cada vez mais
Folia de São Paulo - edição impressa de 17/09/2007

Um dos maiores mistérios acerca da sociologia moderna foram desvendados em escutas telefônicas residenciais de Ewerton Clides. Em um colóquio com seu dermatologista, Ewerton Clides pergunta se é normal uma ascenção da coceira em sua careca.

O dermatologista, cujo nome não pôde ser desvendado pela voz, preponderou. Diz ele: "Isto não tem problema, Ewerton Clides, concentre-se em sua sociologia. Se estiver insuportável, receitar-lhe-ei um creme que faz a cabeça coçar menos, mas altera o desenvolvimento do cérebro."

Ewerton Clides, então, nada respondeu e involuntariamente proporcionou um aumento enorme de coceira em carecas postiças de seus fãs. "Agora os fãs de Ewerton Clides, que raspam o cabelo só para ficarem com a careca igual à dele, ficam coçando a cabeça o dia inteiro! Eu me irrito", relata o motorista de ônibus, João.

Ewerton Clides, no momento, passa bem, e deve responder a novas perguntas em coquetel próximo.

ps: O Instituto Ewerton Clides (IEW), por meio de sua assessoria de imprensa, informa as últimas notícias do próprio instituto, do próprio sociólogo cujo nome está inserido no nome do instituto, e possui, ainda, um clipping com as notícias que foram publicadas nos jornais das últimas semanas contendo as seguintes palavras: Ewerton, Clides, Instituto (somente anterior a Ewerton) e sociologia; e a sigla: IEW.

Informe da assessoria

Por meio de seu conselho regimental, o Instituto Ewerton Clides convida todos os sócios à presença de um coquetel (sem estripetise) em lançamento do livro Juliana e sociologia, conciliando amores. Além de Ewerton Clides, estará presente no coquetel, a Juliana que cedeu o nome ao livro, por isso será cobrada a taxa de R$92 para o pagamento de cachê.

Com o dinheiro recebido no coquetel - previstos R$920000 -, Juliana receberá dinheiro, sapatos e um belo colar de pérolas colhidas por Ewerton Clides - o sociólogo.

Linguagem

Eu, Ewerton Clides, andava pelo belíssimo centro da cidade de São Paulo. Mas não era por beleza, que por lá andava. Eu andava por necessidade de acompanhamento sociológico de um amigo.

Paramos. Era em uma ponte. E lá, observávamos um jogo de futebol jogado por meninos de rua. Sem meninas, ainda bem. As mulheres estragam o futebol, quando jogam.

Muitos dizem que sou homossexual, que detesto as mulheres. Dizem inclusive que eu prefiro croaçã de cocô a ter mulheres. Ora, meus caros. Eu não sou homossexual. E não sou heterossexual, na definição que esta palavra tem de o homem gostar e ter a necessidade de fazer sexo com mulheres. Eu gosto é de uma mulher, porém não faço sexo com ela.

Enquanto os meninos não marcavam gols nem criavam jogadas insinuantes, alguém estava ao meu lado gesticulando bravamente! Olhei-lhe com cara de quem pede para a pessoa parar de gesticular e começar a falar (foto desta cara no prefácio). Mas a pessoa gesticulou-me que não é capaz de falar, por isso gesticula letra por letra na linguagem de surdos.

- Você pode me ouvir? - perguntei.

A pessoa gesticulou alguma coisa. Esta coisa só poderia ser que sim ou alguma outra coisa, mas nunca que não. Porque se ela não podia me ouvir, não negaria a minha pergunta oral.

- Se pode me ouvir, faz que jóia com a mão, assim!

Ele não fez que jóia e saiu correndo. Somente porque fiz um movimento brusco e disse-lhe debaixo de meu bigode:

- Bu!

O meu primeiro emprego

Eu, Ewerton Clides, não creio que a melhor medida a se tomar quando um cachorro opera a pata, seja transformá-lo em um abajour. Também acho que a melhor forma de se tomar leite com nescau, seja utilizando de 7 a 8 colheres. Acredito, pois, que os melhores cofres são os porcos de barro. Acho redundante dizer que amor e sociologia combinam, quanto mais se o amor for por uma loira graciosa cujo nome comece com a letra jota. E, mesmo achando que quando um cão opera a pata, seja melhor não transformá-lo em um abajour, creio que é melhor ter fazenda de formigas a ter um cão.

Ah, minhas habilidades do lar! Meus conhecimentos sociológicos aliados à minha inventividade nata - e também sociológica - permitem que no lar, eu seja um exímio dono do lar. Se por uma tragédia eu nascesse mulher, isto deixaria de ser tragédia, e eu limparia as roupas sociologicamente com perfeição, embora sem nem saber o que é sociologia.

Sim, que a sociologia é rara nas mulheres, muito sabemos. Mas mulheres não precisam de sociologia, já que fazem charminho e utilizam os cabelos mais compridamente.

Vocês perceberam que o parágrafo anterior é falso, não perceberam? As mulheres precisam, sim, de sociologia, mas ninguém sabe por que não conseguem adquiri-la em sua plenitude.

Pois que um sujeito de 67 convidou-me para ser o governanto de seus filhos.

O mais novo, com 37 anos, não sabe uma linha de sociologia! Ele não sabe distinguir uma massa de pizza a uma massa de pessoas! E se acha um gênio. Deslumbrado de si, crê que a sociologia é tão inútil quanto persianas para um sem-teto. Ao que respondi-lhe que a sociologia é tão inútil quanto pintas quando se é uma joaninha!

Esqueci de dizer que são dois filhos. Portanto, o próximo de quem falarei é o mais velho. Chama-se Charles e já morreu.

Sobre tatus - com a possibilidade de se enlaçar outros animais da fauna

Um tatu pode sorrir, se divertir, dizer asneiras e até dar cambalhotas de baixo da terra. Porém ninguém saberá, porque ele estará debaixo da terra, e a probabilidade de alguém andar com um ultra-som para examinar tatus é muito, muito, muito reduzida.

Pois se um tatu viesse perguntar-me se deve continuar dando cambalhotas, sorrindo e se divertindo de baixo da terra, eu lhe diria: - Continue! Continue, meu querido tatu. Continue, mas me conte depois!

Da necessidade de um lápis em determinadas e específicas horas de um dia atribulado

Às vezes eu, Ewerton Clides, necessito de um lápis como uma criança necessita de uma bala de morango. Não que eu chupe o lápis e ele me faça elevar o grau de cerotonina no cérebro. E muito menos que eu saiba que é cerotonina. A propósito da questão anterior, não gosto do gosto de madeira e de grafite.

Mas vínhamos falando de minha súbita necessidade de lápis. Um lápis, minha gente, alguém me arranje um lápis! Porque pensamentos sociológicos vêm à minha cabeça em horas dispersas. E eu para segurá-los?! Necessito de um lápis.

E então, alguma pessoa solícita traz uma caneta. Eu disse caneta? Para trazer-me uma caneta, o sujeito tem que ter graves problemas de audição - ou de visão, no caso desse texto. O problema pode ser de visão também fora desse texto, porque o sujeito pode pegar uma caneta vendo nela um lápis. E então eu digo: - Você não possui tato?!

segunda-feira, 20 de agosto de 2007

Mulher!

Quarta-feira você esbarrou em mim, fez marca de batom na minha gola: A sociologia inteira ficou com ciúmes de você, mulher!

Você sabia?

Você sabia que sem você, qualquer livro de sociologia - até os meus - são somente letras seguidas de letras como formigas seguidas? Que uma foto sua vale mais que qualquer teoria? Que o seu nariz é mais gostoso que uma palavra difícil? Que seu fígado limpa mais o mundo do que toda a sociologia de todos os tempos? Que eu gosto mais de ouvir sua voz do que uma página virando de um livro difícil? Que fico mais feliz de ver você do que de achar um livro raro de sociologia?

Você sabia que é maior que qualquer teoria? Perto de você, sociologia é gibi.

quarta-feira, 1 de agosto de 2007

Tatu-bola

Quando vem em mim o sono despido da vontade de dormir, chego a coçar a careca. Minha capacidade sociológica fica aquém do necessário, e só consigo pensar em voltas, como tatu-bola.

Aliás, conheço uma tatu-bola linda de morrer.

terça-feira, 31 de julho de 2007

Da intimidade com desconhecidos

Chamam-me comumente de ensimesmado. "O Ewerton Clides é a pessoa mais ensimesmada da paróquia!", dizem sem a menor cerimônia!

Mas há razões para isso. Digo ainda que não sou eu o ensimesmado, senão eles os depravados!

Não costumo relacionar-me muito com as pessoas, primeiramente porque todas gostam de ostentar a amizade que têm comigo. Pergunto-lhes as horas, e já vão dizendo que são íntimas de Ewerton Clides. Que Ewerton Clides é incapaz de uma dissertação sociológica sem a amizade delas! Que Ewerton Clides é tão íntimo delas, que oferece a careca para se coçar! Que os pêlos de Ewerton Clides da barriga rondam-lhe o umbigo! Que já viram Ewerton Clides de meia! E que a meia era meia-calça, de mulher!

Ora! É claro que a informação das horas é de incomensurável importância. E que naquele momento sou plenamente dependente dela. Mas não escolho primeiramente a pessoa a dedo para me dar esta informação. Escolho, pois, o relógio delas a dedo!

Quando estou em algum recinto e desejo saber as horas, analiso em volta de mim todos os relógios. O escolhido é o que aparente atrasar menos. Aí, sim, olho para a pessoa. E vejo na aparência dela, se ela ajustou o relógio com rigor na primeira vez, quando comprou ou ganhou o relógio. Porque não adianta que ele atrase menos, se quando a pessoa foi ajustar o relógio, perguntou a algum qualquer, e ajeitou para "nove e meia"! É necessário perguntar direitinho as horas. Talvez "nove e trinta e dois; quando for nove e trinta e três eu falo. 3, 2, 1 e já!"

Mas o motivo capital pelo qual não costumo misturar-me com os demais são os pensamentos ocultos.

Quando se conversa com alguma pessoa, não se sabe no que ela realmente está pensando. Talvez ela pense no assunto, sim. Mas há momentos em que assuntos íntimos se misturam aos do assunto discutido.

É muito possível que o interlocutor esteja pensando no próprio ânus! Já notei várias pessoas, que discutindo avidamente assuntos sociológicos, dão pausas para aliviar gases! Pausas gravíssimas! Eu, Ewerton Clides, as analiso e ruborizo-me. Certa vez, conversava eu com um sujeito que fez uma pausa para aliviar gases. Ele tinha uma convicção infantil de que eu não notaria o motivo da pausa. Pois ele pausou, e imagina quem se ruborizou? Eu mesmo, Ewerton Clides! No primeiro instante, ele achou que na verdade eu que havia me livrado de gases. Mas como era impossível, percebeu que percebi o truque, e encerrou o assunto com uma conclusão estapafúrdia, com que fui obrigado a concordar - mesmo contendo erros sociológicos inadmissíveis - para encerrar o colóquio de intimidade insuportável!
Há também os que pensam em fezes. Na limpeza mal feita das fezes. E algumas coisas mais.

É por isso que eu, Ewerton Clides, surpreendo sempre pela magnífica concentração nos assuntos, mesmo os mais corriqueiros. Pois ofereço-lhes minha atenção completa! Isto para não oferecer intimidade a quem não merece.

Encontro casual

Eu, Ewerton Clides, possuo uma fazenda de formigas.

Nesta fazenda, há oitocentas e vinte e três belas formigas, além de trinta e quatro feias. Mas destas não posso me livrar, já que as outras formigas poderiam se sentir ameaçadas com mortes sumárias de outras, que são feias para mim, mas que para as outras formigas são, apenas, formigas.

Sábado último, enquanto fazia a catalogação da semana, estava na formiga de número 765, a Romilda. A de número 324 se chama Josefa. A 459, Marofa.

Como se percebe, todas as formigas de minha fazenda têm nomes femininos. É que eu, Ewerton Clides, não admitiria dar-lhes nomes masculinos enquanto são formigas - etimologicamente dizendo, uma palavra feminina.

Mas no catalogamento de Romilda, o número 765 lembrou-me escada. Ou seja: - hora de meu passeio.

Desci todas as escadas, abri a porta de meu escritório e trombro com uma mulher. Espantei-me pela trombada que foi uma trombada deliciosa! Mas que cheiro mais gostoso! É claro que este cheiro gostoso provinha dela, porque cheiro de perfume me dá alergia no nariz! E quem poderia ser senão a senhora Ursípedes?! E sozinha!

Neste momento, agradeci por toda a ordem dos acontecimentos mundanos. Senti que tudo estava a meu favor para que, às 17:23, catalogasse Romilda, de número 765, e me ocorresse de dar uma voltinha. Tudo. Agradeci a Pedro Álvares Cabral por naquele dia ter dito à sua empregada que queria frango assado. À empregada de Cabral que o desdizeu, e fingindo ouvir errado, fez frango cru. Aos convidados de Cabral que nunca comeram frango cru e reclamaram naquele dia, nunca mais comendo frango cru na vida todinha! E todo o prosseguimento destes acontecimentos, que graças a eles, pude trombar com a senhora Ursípedes neste sábado! Mas não somente a Cabral e seus próximos. Faço aqui uma lista de agradecimentos pelo encaminhamento mundano que permitiu o trombamento:

- Roberto Maratsumoto Hipólito, que pisou no cocô do cachorro e, para limpar o pé, o chão e ainda dar bronca no cachorro, demorou três minutos a mais para sair de casa. Agradeço ao seu cachorro também, cujo nome não me ocorre agora.

- Marcondes Habibi, cuja excreção anal não foi corretamente tratada e sujou o rio. Agradeço também aos governantes que acharam que era besteira um programa de saneamento básico na região de Marcondes.

- Juan Román Riquelme, em sua visita a Porto Alegre, que dizem ter feito um grande estrago! - Magnoteto Telépono Ingnioce, criança de seis anos que elogiou minha careca em Báli.

- Marcelino Uruguay, excelentíssimo inimigo de Urbina Freitas, que colocou meia suja em sua bolsa para causar-lhe vexame em reunião com o presidente. Agradeço ao presidente por não ter percebido o cheiro.

- Jo-a-kin, coreano nascido em maternidade precária. Agradeço a enfermeira que o deixou cair no chão assim que nascido. E ainda abono a culpa da enfermeira: a maternidade é precária, como já foi dito!

- André Ursípedes, que ao dar um pequeno arroto, tropeçou segurando uma lata e olhou com vergonha a todos em volta pelo tropeço e pelo arroto que saiu em som maior do que o planejado.

- Robierto Uguain, que teve um i colocado sorrateiramente em seu nome por:

- Magnânimo Silva, empregado de favor em um cartório que passava o tempo adulterando nome de crianças recém nascidas.

- Alfredo Jacu, que surpreendentemente gostava do nome.

E todas as outras pessoas, acreditem, vocês não são esquecidas por mim, Ewerton Clides. Agradeço-lhes por cada ato, cada palavra, cada coceirinha escondida em regiões pubianas, pois não fossem vocês, a senhora Ursípedes teria passado por meu escritório em tempo diferente que não aquele, e não haveria o encontrão.

Ela não me reconheceu. Andou com mais pressa e disse um palavrão - filho da puta - tão bonito, que a citação de hoje é dela.

"Filho da Puta" Juliana Ursípedes

A catalogação das formigas foi suspensa.

CECCC-A

Ao lado da sede regional do Instituto Ewerton Clides de Guararapes, localizava-se uma clínica convertedora de valores. Lá, pessoas alcoólicas transformavam-se em crentes religiosos.

Soube disso numa quarta-feira, quando fui informado que o número da venda de meus livros havia subido porque a clínica convertedora havia liberado os internos a saírem uma vez por dia. E os internos saíam para comprar os livros escritos por mim, Ewerton Clides. Foi aí que a compaixão me tocou.

Ora, pensei: - Por que não abrir uma concorrente? Mas não uma concorrente igual, pois não é do meu feitio copiar idéias. Uma concorrente que fizesse justamente o oposto, que transformasse crentes em alcoólatras! Que tirasse dos crentes a mania por deus, e lhes desse o sabor do álcool!

Foi aí que surgiu o Centro Ewerton Clides de Conversão Crente-Alcoólatra.

Hoje, este empreendimento funciona em todo o Brasil, em sedes variadas, ajudando as pessoas em transformar o vício em deus por vício em álcool! Molhando a garganta cansada de rezar com gotas do mais delicioso álcool.

segunda-feira, 30 de julho de 2007

Jesus Cristo sociólogo

Definir sociologicamente Jesus Cristo é como pintar a parede da sala sem tirar os móveis: a sala ficará com pintura satisfatória, mas sempre que se quiser dar uma arranjadinha nos móveis, notar-se-á que atrás deles a cor está diferente. E se pintar a parte que estava diferente, vai ter que pintar a sala inteira, mas como os móveis estarão ainda lá, o problema se repetirá infinitamente.

Jesus Cristo possuía barba. Suas unhas, pelo que se consta, nunca o incomodaram, visto que a Bíblia e os filmes bíblicos demonstram-no sempre com unhas rijas e bem aparadas.

Cuidado com os filmes bíblicos!

A simples transcrição não sociológica já encaminha uma distorção. E a bíblia, coitada, foi feita na época em que se alguém dissesse a palavra sociologia, seria seguida por um interlocutor se utilizando da seguinte expressão:

- Quê?

E também seria seguida de si mesmo:

- O que foi que eu disse?

Isto porque a pessoa não saberia o que era sociologia e diria alguma coisa que nem ela sabia o que era!

Ou então, como foi muito divulgado, mas depois por mim desmentido, a pessoa responderia:

- Sim, sim. Creio que fica à esquerda.

Esta resposta foi dada em uma magnâmina confusão. A pessoa testou, enquanto a bíblia era escrita, dizer sociologia. A outra pessoa entendeu errado, pois, ao muito estudar e empreender elocubrações das mais variadas, percebi que a resposta veio de um engano, pois foi respondida como se referindo a um lugar! Como se eu perguntasse onde fica o posto de gasolina, estando à direita dele, para você me dizer que fica à minha esquerda!

Então se a bíblia já é distorcida, os filmes bíblicos são mais distorcidos ainda. Mas com uma vantagem.

Se a bíblia distorce - portanto erra - e os filmes bíblicos também distorcem - portanto também erram -, os filmes bíblicos podem acertar errando, já que errar um erro pode se encaminhar em um acerto em dia de coincidência. Este é o conceito de desdistorção, muito estudado em meus vários e célebres livros - comprem sempre meus livros no Instituto EWerton clides, para o lucro reverter-se sempre a mim, Ewerton Clides.

domingo, 29 de julho de 2007

Gaiato!

Meu avô derramou uma xícara repleta de leite em meu primeiro rascunho sociológico.

Eu, criança, olhei pasmo as letras que escrevi sendo misturadas pelo líquido marrom de vovô Clides.

- Mas vovô...

- Quê? Que foi?

- O líquido, vovô, o líquido marrom!

- Achocolatado, quer?

Eu disse que não, que obrigado.

Hoje, eu diria para vovô Clides, que ele atrasou o início da sociologia do maior sociólogo, com aquela distração. Sabe o que ele responderia?

- Gaiato! - e lamberia os lábios, rindo do orgulho que tinha pelo neto, no caso eu, Ewerton Clides.

Depende?!

Eu, Ewerton Clides, vou dizer como testo as pessoas. Testava. Porque após dizer aqui, jamais poderei testar de novo, porque todas as pessoas que me conhecem - as dignas de teste - lêem tudo que publico.

- Eu, Ewerton Clides, posso pedir-lhe um grande favor?

Peço assim, com voz ligeiramente aflita, como se realmente necessitasse de um favor enorme. Como se minha calma, e estabilidades sociológica, física e financeira dependessem do favor que somente a pessoa poderia fazer por mim.

Mas tomo cuidado sempre com minha fama. Porque não conheço alguma pessoa que não deseje fazer-me um grande favor. Então este teste tem que ser feito sempre depois de intimidade alcançada, que permita a pessoa sentir-se segura com minha amizade, a ponta de se permitir a preguiças.

A resposta da pergunta é variada. Tem gente que diz:

- Claro, Ewerton Clides, eu farei o favor sem o menor problema!

Então eu sei que posso confiar nesta pessoa. Mas há os que dizem:

- Não, Ewerton Clides, agora não dá.

E também tem quem diga:

- Depende.

Resposta por resposta.

A primeira é a resposta que mais me agrada ouvir, pois sei que posso confiar na pessoa nos maiores intempéries. Ela, sem saber do que eu, Ewerton Clides, necessito, fará. Para ela, o meu conforto está a frente dos caprichos dela. Então esta pessoa passou no teste. Em resposta, posso dizer-lhe:

- Por favor, diga-me que horas são? - quando não desejo que ela saiba que era um teste.

- Parabéns! - assim o faço quando a pessoa me surpreende, e ela saberá que é um teste.

Agora, se a pessoa me dá a segunda resposta, a negativa, ela não passa do teste. Mas também não será eliminada. Assim porque ela não pode conceder-me o favor ou por preguiça mesmo - o que a caracterizaria eliminada -, ou então porque há alguma coisa que lhe impeça, então não há problema. Isto porque ela poderá ter outras amizades, e estar em um momento de favor a outro amigo, o que significaria lealdade.

E a terceira resposta: - "Depende." É a mais irritante! Tão irritante, que me exalto quando ela vem! "Como depende?!", lhe pergunto! E ela fica encabulada, me olha com preguiça, e reintera que depende da dificuldade do favor!

Ora essa! Eu, como grande sociólogo que sou, não admito amizades preguiçosas!

sexta-feira, 27 de julho de 2007

Dolores

Eu, Ewerton Clides, entrei em uma loja de conveniência que se localizava dentro de um posto de gasolina.

Do segundo pro terceiro instante dentro da loja, me pus a rir. A boa risada, como se sabe, pede apoio. Nunca vi alguém que risse uma boa risada sem se apoiar em algum lugar. Quando ando na rua com algum interlocutor, procuro apoiar-me nele para rir. Se estou em meu lar, procuro um móvel de madeira firme. A escada, como se sabe, já tem corrimão dos dois lados, o que possibilita que duas pessoas riam em par, da mesma coisa, sem se apoiarem. Será que ela, a escada, foi inventada por alguém muito bem humorado? Ou será que não, que só tem corrimão para ninguém cair pela dificuldade causada pelos degraus? Degraus causam o mesmo efeito da graça.

Mas lojas de conveniência não são para rir. Pelo menos boas risadas, não. E sabe por que eu ria daquela forma? Por estar sendo inconveniente dentro de uma loja de conveniência! E sabe por que fui mais inconveniente ainda? Porque derrubei um chiclete da estante na hora de apoiar a risada. E a minha inconveniência evoluía como um rocambole infinito! Pois eu ria mais ainda.

Porém, possuo auto-controle. Parei de rir assim que quis, e para pegar o chiclete que deixei cair da estante. Esta tarefa é fácil para mim, pois chão não me é distante.

- Mas Ewerton Clides, por que você riu pela primeira vez?

Não me lembro. Acredito que foi por um motivo de pouca relevância que culminaria numa risada mínima. Mas esta risada mínima foi que me fez pensar numa risada maior, e este pensamento, sim, foi muito engraçado.

Coloco o chiclete na estante, quando minha face se avermelha.

Uma senhora perguntou-me o porquê da graça. Ela disse que achava que a risada era incompatível à sociologia. E eu lhe disse que achava que aquela pescoço enorme fosse incompatível em uma cabeça tão pequena. Se isso era possível, por que eu não podia rir?!

- Hein, hein, hein?!

Ela disse que era por doença.

Como pude ser tão inconveniente, repito, numa loja de conveniências?! E lhe disse crer que estava no lugar certo, pois já que não possuía conveniência, era necessário que comprasse uma! Disse isso mirando já uma estante plenamente resistente e sem objetos em volta, pronta para suportar minha outra risada.

A conversa ia-se tornando menos e menos agradável. Ainda bem que ela tirou um livro escrito por mim, "Cocô mole em papel higiênico duro, tanto raspa até que fura", para pedir-me um autógrafo.

Com o livro no balcão, abri a terceira página, em cujo branco poderia escrever o autógrafo. Sabe qual era o nome dela?

- Dolores!

- Dolores?! Você é minha tia?

- Não! Por quê?

- Eu, Ewerton Clides, sempre desejei ter uma tia com o nome Dolores. Perguntei somente para ter, na vida, um momento de esperança de realmente possuir uma tia com este nome. Matematicamente, no momento entre a minha pergunta e a sua resposta, eu possuía 50% de chances de você ser minha tia. Pena.

Saí da loja de conveniência estupefato por entrar numa loja de conveniência e não ter feito nada que pudesse contar depois, em jantar com senhora Ursípedes. Fiz questão de me fingir de distraído e não autografar o livro de dolores, com rancores de ela não ser minha tia.

Sobre meu livro "Pingo e limão, não pinga"

Falo de meu livro "Pingo e limão, não pinga". Na primeira semana, esteve logo no primeiro lugar do ranking de livros da livraria de meu instituto - a única que vende todos os livros de Ewerton Clides, e só livros de Ewerton Clides. É claro que comemorei isto na cama elástica. Foi assim.

Meu assessor telefonou-me:

- Ewerton Clides! Seu livro está no primeiro lugar do ranking do instituto!

Coloquei o telefone de lado, assoprei triunfalmente, e disse a ele sem que percebesse minha euforia de assopros:

- Obrigado pela informação.

E fui à cama elástica.

Uma semana depois, recebi um telefonema do mesmo assessor:

- Ewerton Clides! Telefono para dizer que seu livro novo não está mais no primeiro lugar dos livros mais vendidos do instituto!

Tirei o telefone de minha boca e não disse nada. Tirei com medo de que escapasse de minha boca alguma reação – algo improvável -, já que nessas horas sempre dizemos alguma coisa, e é sempre bom esconder as coisas do assessor. O problema é que nessas horas, vocês sempre dizem alguma coisa, mas eu, Ewerton Clides, não. Então retornei o telefone à minha boca e lhe disse:

- Mas então que livro está na primeira colocação?!

- É o seu, Ewerton Clides, o da biografia.

Dei um sorriso largo, mas sem dizer nada, a não ser:

- Obrigado pela informação.

Desliguei.

Cama elástica, claro.

Este era um post para se falar de meu novo livro, "Pingo e limão, não pinga", então vamos a ele.

- Fale mais um pouquinho do ranking, vai, Ewerton Clides?

Falo.

O ranking da livraria de meu próprio instituto é o seguinte:

1- "A biografia não autorizada de Ewerton Clides, escrita pelo próprio Ewerton Clides", de Ewerton Clides

2- "Pingo e limão, não pinga", de Ewerton Clides

3- "Lavar macaco: sabonete ou xampu?", de Ewerton Clides

4- "Uma sociologia e meia", de Ewerton Clides

5- "Como adular a mãe sem ser o filho da adulada", de Ewerton Clides

6- "A adulada", de Ewerton Clides

7- "Falar consigo mesmo sem o uso do telefone - para não dar ocupado", de Ewerton Clides

8- "Quê? Que o quê? Eu só disse quê.", de Ewerton Clides

9- "Papel higiênico mole em cocô duro", de Ewerton Clides

Não falemos mais do ranking.

Meu livro "Pingo e limão, não pinga", assim que lançado, teve uma entonação estranha até pelos leitores mais assíduos. Eles se esqueciam do acento entre as palavras limão e não. Pois eu já previra este desconforto separatório.

Pos isso, escrevi um prefácio somente em honra da vírgula. Eis um trecho: "Amo uma mulher que ama outro homem. E este outro homem também ama esta mulher. Pois entre as palavras pingo e não do título deste livro, há uma vírgula." Ou seja, não escrevi que limão não pinga. Mais adiante, no mesmo prefácio: "Quem sabe qual é a mulher que amo, favor falar para ela sempre bem de mim. E também lhe peço que fale sempre a qualquer pessoa, da importância desta vírgula no título de meu livro. E caso conheça a mulher que amo, e estiver entre falar bem de mim ou falar da vírgula, dê a preferência para falar bem de mim. Mas caso dê para falar da vírgula, serei grato."

Enfim, esta vírgula serve somente para dizer que não falo da bebida pinga. Justamente para desfazer um engano, propus outro.

Soluços sociológicos

Uma curandeira sempre se surpreende com a previsão acertada.

E eu andava pelas ruas para observar pessoas. E ser observado, claro. Mais ser observado do que observar, embora tenha um metro e cinqüenta e cinco.

(Para mim, Ewerton Clides, a maior virtude humana é virar o pescoço para baixo. Não fosse isso, eu, Ewerton Clides, seria fisicamente tão relevante quanto uma formiga.)

Uma moça muito feia me observava e me seguia. Eu pensei, primeiro, que ela perguntaria a quantidade correta de pingos de limão a se dar a uma planta quando se é vegetariano, já que lancei recentemente o livro "Pingo e limão, não pinga".

Pois o sinal estava fechado, e ela se emparelhou a mim. Ela ia dizer "Olá, Ewerton Clides", mas eu antecipei e disse: - "Sim?"

Ela ficou um pouco vermelha e perguntou se eu gostaria de ir a uma curandeira consultar o futuro. Eu disse que não. Mas não justifiquei, virando logo cento e oitenta graus, numa atitude estranha de esperar o sinal e simplesmente voltar. Aqui explico.

Primeiro que não sou comprometido, mas me encanto muito por uma senhora. E eu estava com soluço.

A grande vantagem da palavra escrita é que nela, o soluço não atrapalha.

quarta-feira, 25 de julho de 2007

Espinhas

Marcos, um transeunte qualquer, perguntou-me na última sexta-feira se sou feliz.

Mais feliz eu seria se um sujeito com o nome de Marcos não me interpelasse para perguntar se sou feliz. Da mesma forma que eu teria muito menos espinhas se permitisse à minha empregada faceira que as tirasse. Mas não a permito por crer que o toque em um sociólogo é desconfortavelmente desmistificador. E que ela venderia depois, a espinha de Ewerton Clides!

- Mas e a sua felicidade, Ewerton Clides?

Acho que ele queria uma espinha. Ofereci-lhe a face, com o lábio inferior dobrado, dando a entender claramente que me tirasse uma proeminente espinha que se localizava à lateral esquerda de minha testa. Mas ele nada fez.

Expliquei-lhe, então, que a minha testa se distingue do cocuruto vazio de pêlos pelo brilho - o cocuruto brilha mais. Mas também é fácil de notar que uma espinha jamais teria a ousadia de se localizar na minha testa. Se tivesse, eu, Ewerton Clides, pentearia o cabelo do lado esquerdo até alcançar o lado direito, cobrindo, assim, a careca. Mas isto seria feito em um caso propriamente atípico, pois não me agrada esconder meu cocuruto careca.

Um tanto enviesado, ele disse que não desejava tirar alguma espinha minha, senão saber se eu era feliz. Mas como eu havia lhe oferecido, perguntou por que eu mesmo não tirava as minhas próprias espinhas.

Vencido, olhei-lhe e disse: - "Sim, sou feliz."

terça-feira, 24 de julho de 2007

Assunto pendente

Escrevo este texto em tarde de insônia. Tenho alguns assuntos pendentes.

Eu gostaria de abordá-la e dizer que tenho duas notícias boas e uma ruim. "Então conta logo a ruim!" Não! Eu contaria a boa: Eu a amo!

- E a outra boa, Ewerton Clides?

A outra boa é a de que não há notícia ruim!

sábado, 21 de julho de 2007

O moço sozinho

Eu, Ewerton Clides, sou um sujeito que ouve muito as conversas dos outros.

Certo dia, fui ao restaurante. Sentei sozinho na mesa, quando veio o garçom:

- O de sempre, Ewerton Clides?

O de sempre, claro. Então ele não trouxe nada, pois vou ao restaurante é para ouvir conversas.

Quando eu era um sociólogo menos conhecido, precisava escolher a mesa vazia certa para ouvir conversas sociologicamente concretas. Hoje, tenho uma mesa fixa. E as pessoas que almejam ser ouvidas por Ewerton Clides é que sentam perto de mim. Estes lugares são muito concorridos.

Mas na sexta-feira passada, algo intrigante ocorreu.

Um sujeito vestido de shorts e camiseta sentou-se na mesa ao lado da minha. Parei de ouvir todas as outras conversas para prestar atenção no sujeito. Pensei na motivação dele para sentar perto de mim, já que não podia ser ouvido, uma vez que estava sozinho e não tinha com quem conversar.

Pediu bife à milanesa.

Continuei absolutamente compenetrado, agora, mais no bife à milanesa, que ele cortava em fatias iguais - todas retangulares. Antes de pegar o primeiro bife, espirrou para o lado sem tirar as mãos dos talheres. Admirável!, para não contaminar os bifes.

Mas ele não começava a comer!

Pensei em Leonardo Da Vinci quando disse parla; em Givanildo - o jardineiro - quando disse corta; no rei da França, quando disse enforca; no rei de Piza, quando disse torta; no carregador, quando disse passa a mala; e em Napoleão, quando disse:

- Ataca!

O moço olhou a mim, Ewerton Clides, triunfante. Veio na minha direção com o prato na mão, e o colocou na minha frente, junto com garfo e faca.

Foi então que percebi que ele não desejava ser ouvido por mim. O que ele desejava, era falar comigo!

Ao telefone

Atendi o telefone quando meu mordomo dava sinais de que estava dormindo.

Creio que dormir é salutar, e comer é na cozinha. Dormir na cozinha, então, é saudabilíssimo! Pois era lá que meu mordomo dormia, quando o telefone tocou. Dormia tão formidavelmente, que nem os toques agudos do telefone foram suficientes para acordá-lo.

Então eu, Ewerton Clides, atendi o telefone. A pessoa que ligou falou muitas coisas iguais. A todas respondi evasivamente, pois atendi o telefone enternecido com o mordomo. "Ewerton Clides está?" Está, sou eu, é ele, depende da conjugação. Mas você gostaria de falar com ele ou só saber se ele está? Se for só saber se ele - no caso, eu - está - no caso, estou -, está, ou estou, depende novamente da conjugação.

Deixei o telefone onde estava sem desligá-lo, rindo de mim mesmo, pois não tenho a menor habilidade em atender o telefone! E ainda por cima o mordomo estava acordando. Eu lhe disse baixinho para não assustá-lo do sono:

- Venha! Venha para me chamar!

Ele veio, me chamou, e então eu falei ao telefone normalmente.

quinta-feira, 19 de julho de 2007

A sociologia da saudade

Na primeira vez que falei da sociologia da saudade, não fiquei nervoso como ocorreu quando finalmente consegui utilizar privada, aos oito anos de idade. Porque nesta ocasião, havia barulho abaixo de mim, e eu sabia muito bem que era barulho de água. Mas saudade não faz barulho. E é seca!

A sociologia da saudade é como uma parede pintada de vermelho na parede branquinha da sala.

No primeiro dia, acordei às dez horas da manhã, hora do esplendor de luzes da parede. Entrei na sala a passos leves, mas não pude dar o quarto passo: a parede estava pintada de vermelho clarinho! Assustei-me como podia.

Meu mordomo encontrou-me de cócoras na entrada da sala.

(E ele, de quem falei muito, e bem, ainda há pouco, suscitou entre meus admiradores a o pedido da revelação de sua identidade. Juraram-me que não era por inveja, nem para contratá-lo. Era somente por curiosidade. E a sociologia não se faz quando há curiosidade.

Pois eu disse:- "Mordomo, vou revelar sua identidade". O termo mordomo dito há pouco não foi dito, mas sim com o nome do mordomo. Pois revelo, agora, a identidade de meu mordomo: 536975215-5.)

Pois ao encontrar-me de cócoras na entrada da sala, ele disse: - "Ewerton Clides, por que você está de cócoras na entrada da sala à esta hora? Você não costuma ficar de cócoras. Devo estranhar ou acrescentar na lista de seus hábitos matutinos?". Não sei, respondi-lhe, mas você deve notar que a parede está vermelha!

- Quer chá, Ewerton Clides? - perguntou-me, então.

Eu disse que sim, olhando a parece vermelha. Adoro chá.

Na décima quarta manhã, a parede estava muito mais vermelha, e eu nem notei.

Se pedissem a mim, Ewerton Clides, para pintar a minha parede de vermelho, eu diria que não. Mas hoje, com o vermelho escuro, eu não deixaria ninguém pintar a parede de branco. Adoro vermelho.

ps: A sociologia da saudade surgiu de uma fala feminina: “Eu acho que lugar de parede vermelha é na parede do filme.”

Ewerton Clides, a infância

Uma pergunta comum que muito me acomete é a de como foi a minha infância.

Perguntam-me, por exemplo, se todos me chamavam nesta época já de Ewerton Clides, e não somente de Ewerton. Ora, meu sobrenome é Clides desde que nasci. Não admitia mesmo criança que me ocultassem o sobrenome como criança esconde o champignon na beira do prato! Champignon é digno de se esconder, porque fungos vivem mesmo escondidos. Já meu sobrenome tem é que ser muito exibido! No sindicato com meu nome, muitas vezes ouvi muitos aplausos por somente proferir Ewerton Clides. Não teria por que escondê-lo.

Eu escondia o champignon também por repudiar os estrangeirismos. Ou você acha que ascendo abajour? Prefiro abajur.

As mulheres da infância censuravam-me muito pelo que diziam ser minhas excentricidades. Eu não era excêntrico. Excêntrica era minha avó! Ela pintava o cabelo de verde.

Mas censuras femininas nunca me comoveram.

A minha infância acabou aos ointenta e dois anos, quando visitei a casa dos Ursípedes. Até esta ocasião, os seios femininos eram para mim, Ewerton Clides, tão interessantes quanto um camelo, com vantagem para o camelo que não precisa usar sutiã.

terça-feira, 17 de julho de 2007

Humor-domo (parte dois)

O corte de cabelo do meu mordomo igual ao meu não me soou como imitação.

Muitos sociólogos costumam me imitar. Eu lhes digo sempre que não tenho raiva, pois se fosse incompetente como eles, e se a sociologia não me fosse tão abundante, eu não copiaria Ewerton Clides, como eles fazem, porque neste caso eu, Ewerton Clides, não existiria para ser copiado.

O cabelo de meu mordomo não foi uma cópia. Foi uma homenagem! Se ele copiasse, não teria me olhado orgulhoso, ávido para que seu cucuruto fosse visto na parte mais adequada de meus óculos. Se ele copiasse, fingiria que não era cópia! Se ele copiasse, não receberia bonificação na janta. E se ele copiasse, não seria meu mordomo, porque mordomo de Ewerton Clides homenageia, não copia.

Para ser meu mordomo é preciso ter altivez própria. Fora que ela detestaria ver a mim, Ewerton Clides, com um mordomo que não fosse digno de mim.

Humor-domo

Amor de mordomo é essencialmente irrealisável.

Meu mordomo me olhou esquisito no dia vinte e dois. Eu sei que foi no dia vinte e dois porque assim que ele me olhou esquisito, perguntei-lhe a data. Se ele dissesse um número, não seria a data motivo de alguma coisa; e se ele respondesse alguma coisa diferente - como, por exemplo, hoje é dia de pintar o bigode! - , seria esse o motivo. Mas ele disse número: vinte e dois. Deu para reparar que não sei do mês, porque quando ele disse, eu sabia o mês. Hoje, não mais.

Então ele colocou a xícara vazia em cima da geladeira, do jeito que eu gosto.

- Ele quem? Ele não tem nome? É só mordomo?

Ele tem nome. Que não direi para não valorizá-lo. Todos quererão tê-lo como mordomo, o mordomo de Ewerton Clides! E levá-lo a festas só para dizer que está com o mordomo de Ewerton Clides!

Mas o motivo de eu não dizer o nome é unicamente o de que ele não sairia por motivos de ordem financeira! Porque ser meu mordomo não é somente ter um salário de mordomo de Ewerton Clides! É ser o mordomo de Ewerton Clides!

E o mordomo de Ewerton Clides, o meu mordomo, colocou a xícara vazia em cima da geladeira. Então colocou o chá de erva cidreira no vazio, onde deveria estar a xícara que não em cima da geladeira. Este é meu ritual porque assim aconteceu no dia que a conheci.

Mas desta vez, enquanto limpava o meu paletó de café da manhã, meu mordomo abaixou a cabeça, cujo cucuruto ficou na exata posição em que as lentes de meus óculos melhor funcionam: ele cortou o cabelo igual ao meu!

Como é sabível ao olhar na foto do prefácio de meu último livro - a sociologia é um CD-R: nãu funciona legal em discmans antigos - meu cabelo inexiste no cucuruto. E meu mordomo é jovem, teria cabelo onde quisesse! E não o quis no cucuruto: raspou o cabelo do cucuruto somente para ficar igual a mim.

Careconização

O direito de propriedade intelectual da careca surgiu em virtude da reclamação óbvia de que se todas as coisas lisas podem servir de tela para obra de arte, a careca também pode ser uma. Inclusive eu, Ewerton Clides, escrevi uma petição para que se homologasse o que chamei, na época, de "tela viva, a única que sua".

Um dos maiores obstáculos para a aprovação, foi a constante implicância da sociedade como um toldo sobre as várias carecas do mundo. Diriam que seria preciso homologar cada careca, pois além da diferença óssea, havia, na época, a diferença entre o tamanho das carecas e das cores delas. Esta implicância, claro, é pertinente. Mas eu, Ewerton Clides, por ser Ewerton Clides tive a opinião prevalecida. Inclusive as críticas mais árduas foram relevadas.

A aprovação foi recebida com muita festa entre os sociólogos em geral, porque sociólogos costumam ser carecas, e os que não são, sociólogos não podem ser. E eu, Ewerton Clides, fiquei muito satisfeito com o status comprovado.

Mas hoje comprei uma tinha a gouache e a pintei na careca com o dedinho. Suei e fiquei com a cara inteira colorida!

segunda-feira, 16 de julho de 2007

Abuda

A sociedade como um toldo notou minha ausência. Como um toldo que não tinha o que cobrir! A sociedade sem eu, Ewerton Clides, é um toldo no deserto cobrindo areia!

E em minha ausência notei outra, incrivelmente mais significante que a minha. Eu não tinha mais toldo! Eu era um albino no deserto sem toldo!

Agora estou aqui. E até bronzeei-me artificialmente para ficar mais atraente. Agora que não sou mais albino, tenho o toldo!

Eu, no seu lugar, gostaria de saber o que fiz nesta ausência. Então você não deve ter pensado isso, porque você não sou eu. E como você não é eu, não pensa como Ewerton Clides, embora seja muito possível que tenha em sua mente o pensamento ewertonclidiano muito avançado.

Contar-lhes-ei o que fiz enquanto o toldo estava descoberto.

Estudei deveras para me tornar um muçulmano. A religião muçulmana sempre me foi atrativa, principalmente por sua parecença com a palavra mussarela, queijo que me cai muito bem. Mas semelhança com queijo não é suficiente para mobilizar a mim, Ewerton Clides. Pois foi somente quando vi nesta religião a possibilidade do casamento arranjado foi que procurei na lista telefônica o endereço da igreja muçulmana mais próxima de minha residência.

Aqui, o leitor deve ter notado o meu primeiro engano. Como procurar endereço na lista telefônica?

Mas foi somente errando o caminho à padaria que avistei uma bela igreja evangélica. Então pude perguntar a quem entrava onde havia por perto uma igreja muçulmana.

- Otomana?

Não, eu havia dito muçulmana muito claramente, não sei como aquela mulher feia não me entendeu.

- Mas meu senhor, foi isto mesmo que eu ouvi e lhe disse: - "Muçulmana."

Então foi desfeito o engano: eu era quem havia ouvido errado. Mas sou sociólogo, e uma surdez ligeira é para a sociologia o que a nuvem é para uma criança solitária que aponta o céu e diz: - "Olha, mãe! Não parece um elefante?". Ao que a mãe responde que não, com o intuito correto de não dar à criança nuvens para a imaginação.

A igreja era aquela mesma. Eu também havia lido errado. Não era evangélica. É que vou à padaria sem óculos.

Rapidamente enturmei com aquela comunidade sem reservas. Elas gostaram da minha careca brilhante que eu dizia ser proposital. E eu gostei daquelas barbas que eles diziam ser propositais.

Nosso relacionamento teve somente um entrevero, suficiente para pôr abaixo meu plano do casamento arranjado. Foi que perguntei de Abuda, inoportunamente colocando um A frente à palavra do deus deles. Eles perdoaram o engano, mas não perdoaram que eu achasse que o engano era por ser Abuda ao invés de Buda.

Expulso da igreja, fui à padaria e comprei pães - cinco deles.

quarta-feira, 13 de junho de 2007

As mulheres

Quarta-feira passada, estava eu Ewerton Clides recitanto um tratado de sociologia ewertonclidiana escrito por mim, Ewerton Clides, no tempo em que o termo ewertonclidiana mal era divulgado pelas ilustres universidades brasileiras. Terminei o pronunciamento com a frase finalité, igualité y sociolité. Eu não sei francês; nem os que me ouviam. Por isso, o efeito produzido foi tamanho, que não seria alcançado nem se eu dissesse corretamente os termos! Aplaudiram-me como se deve aplaudir alguém com o status de Ewerton Clides. Ainda mais quando o alguém que tem o status de Ewerton Clides é o próprio Ewerton Clides! No meio dos aplausos, eu repetia finalité, igualité y sociolité! muitas vezes, mas ninguém ouviu, pela incomensurável quantidade de decibéis propalada pelas palmas sociológicas.

Desci de um degrau e dirigi-me ao local reservado a fumantes. Sempre disponibilizo locais reservados a fumantes em minhas palestras, porque não permito a entrada de fumantes! É para eu poder ficar sozinho. Mas um intruso veio até mim e perguntou como se compreendia as mulheres! Olhei estupefato àquele sujeitinho. Um sujeitinho, sim! Como não saber das mulheres? Disse-lhe, primeiramente, que no mercado de trabalho atual, compreender as mulheres tornou-se mais fundamental até do que a compreensão da língua inglesa! Para não falar, pois, das mulheres inglesas! Mas mulher inglesa, eu, Ewerton Clides, nunca vi! Já escrevi muito a respeito, mas ver, nunca!

Peremptoriamente, disse-lhe: - "Eu vou falar. Mas não devia!". E o que falei ao sujeitinho, transcreverei aqui:

"Eu gosto de uma loira. Mas como diria eu mesmo, Ewerton Clides, nem tudo que reluz é loira! Talvez você ache alguma morena tentadora." E como ele me olhasse esquisito, esquisito mesmo, eu disse: - "Quer bolacha?". Ele quis, e eu lhe dei uma bela bolacha sabor morango.

terça-feira, 12 de junho de 2007

O flato social

Ela olhou em minha direção, abriu os braços, e veio andando. Olhava uma palma à minha esquerda, e pensei que meu amor, não há problemas com a sua vesguice! Pois ela passou reto. Sua felicitação, sua abertura de braços, seus passos, não foram para mim, Ewerton Clides!

Sentei num banco à esquerda. Um fã, reconhecendo-me, veio debater sociologia. Eu concordei com tudo, e disse-lhe, meu querido, você será um ótimo sociólogo, se continuar assim. E o fã, fã que era, estranhou! O que foi que, Ewerton Clides?, disse ele ainda feliz por eu ter-lhe dito que será um ótimo sociólogo. Sem se preocupar comigo, perguntou-me o que foi. E como ela não se preocupou comigo, achei certo não se preocupar comigo. Disse-lhe:

- Soltaram um pum no meu coração aerado.

Quem, Ewerton Clides? Quem soltou um pum no seu coração aerado?!

- Saia já daqui! Mas antes, lhe digo: é loira!

Fato social elegante

Estava eu, Ewerton Clides, a presenciar solenemente uma corrida de cavalos. Repousei meu chapéu ao peito, segurando-o com a mão esquerda desmunhecada; baixei a cabeça, os óculos, e levantei os olhos. Protuberei a ponta dos meus lábios, como quem entende muito de cavalos e se importa muito pouco com pessoas. Em minha frente, sentou uma mulher alta: ela pareceu mais alta do que é, e eu pareci mais baixo que sou.

segunda-feira, 11 de junho de 2007

E monitor que não liga, cocô que a gente pisa, faz a gente perder a compostura. Desculpe. A sociologia às vezes sai de mim como uma catota sai do nariz de um sujeito enfermo por resfriado!

Desculpe. A compostura há de voltar.

a zar

Bem quando a gente ama, a gente percebe que existe azar. Porque sempre meu monitor não ligou, e eu nunca achei ruim. E quando alguém me encoxava no ônibus, achava que era casual. Se eu pisava no cocô, ainda quentinho, limpava e pronto. MAS AGORA, MEU BEM!, TUDO MUDOU!

Se meu monitor não liga, eu sei que ela está me esperando!, e que não conseguirei falar com ela por causa deste simplório entrevero! Se alguém me encoxa no ônibus, bem... nunca ninguém me encoxou no ônibus! Sou muito baixinho para coxas. Falei para dar um exemplo e deixar o texto mais achatado, mais volumoso, mais calliente! E se eu piso no cocô, percebo que fico com o cheiro o resto dos tempos, e ela repara muito bem! Pensa que não? Para abaixar a sobrancelha:

Aquele dia, eu tinha pisado no cocô. Ela veio falar comigo, e disse: "Oi, humm, Ew!". O hummm foi o problema! O humm é o momento em que ela sentiu o cheiro! Mas nesta hora, ela pensou que fosse momentâneo, não meu. Mas ela foi ver o que tava passando na televisão, coisa de pato, e voltou! Percebeu a diferença de cheiros entre os recintos! E que o cheiro ruim era meu! Então ela disse que era dia de comprar legumes e foi embora! AZAR, AZARZÃO! Por que eu fui pisar ali, por quê?!

Antes, pisar ou não pisar era nada. Agora, é um grande azar!

sexta-feira, 8 de junho de 2007

Para eu, Ewerton Clides, ficar triste, basta a sociologia - a ausência dela. Mas quando digo dela, não digo que é a ausência da sociologia! É a ausência dela, uma pessoa não conhecida neste espaço, mas tantas vezes referida!

Mais um texto de mamã!

Eu gosto de abóbora como quem gosta de cenoura: prefiro as laranjas!

Comecei com uma frase culinária porque hoje vem um texto de mamã! Porque todos pediram. E quem não pediu, não pediu porque é bobo! Ou porque sabe que eu, Ewerton Clides, detesto que peçam as coisas. Mas como saber disso se nunca falei? A não ser que você seja íntimo, e saiba de coisas que não deve! Se assim for, continue sem pedir as coisas, porque vai acabar deixando-me constrangido, porque comentário é coisa pública e séria! O texto de mamãe:

"Hoje eu não vou escrever."

Senhora Clides

A sobrancelha esquerda!

Comprei um baralho dos bons, porque, meu amigo, ele me disse que ela gosta é de sueca! Treinei, tive aulas com um professor português, e fui a ela:

- Benzinho, vamos tirar uma sueca?

Ela levantou as sobrancelhas e perguntou-me o que é sueca! Ele estava perto de mim e riu-se por eu ter acreditado que sueca era o esporte preferido dela! Olhei para trás, aproximadamente a setenta e oito graus, e disse:

- Caro colega! Fiz tudo isso para ela levantar a sobrancelha esquerda deste jeito!

quinta-feira, 7 de junho de 2007

A sociologia não me cansa; o que me cansa é ser descansado pela sociologia.

quarta-feira, 6 de junho de 2007

Pêlos: se não têlos, como sabê-los?

Falar-lhes-ei de uma coisa que pensava eu, já havia-lhes dito.

Pois ontem fui dormir pensando na dispendiosa desfaçatez que tive por revelar a minha fragilidade nas nádegas. Ainda disse do jeito que prefiro para a dobra de cuecas! E publiquei um texto de minha mãe, a senhora Clides, senhora talentosíssima! E de tanto pensar, levantei. Fui até meu guarda-roupas e peguei meu whiskey. Fiquei a admirá-lo.

Eu não tomo whiskey. Detesto os álcoois. Mas me agrada muito saber das coisas que mais velhas, ficam melhores. Assim peguei minha garrafa e pude admirá-la e sorrir! Mas o que faltava era: UM TEXTO SOBRE A NECESSIDADE MASCULINA DE UMA QUANTIDADE MÍNIMA DE PÊLOS!

Sim! Que eu sempre pensei nisso. E achei que havia aqui publicado esta idéia! E não uma vez, somente! Não! Várias vezes! Mas, como você sabe, não publiquei nenhuma vez.

Os homens tem uma necessidade de ter uma quantidade mínima de pêlos. A quantidade, não sei qual é, mas existe. A explicação é simples: Vocês já repararam que sempre que um homem fica careca, a barba dele cresce como que simultaneamente? O homem deixa a barba crescer quando faltam os pêlos da cabeça, para não sentir a desmoralização causada pela despelinização!

Já vi homens que não possuíam barba farta, e perderam os cabelos pela calvície. Notei, então, ao abraçá-los, que o peito estava mais fofinho. Sim! Os pêlos do peito se manifestaram em solidariedade à virilidade do sujeito.

Mas posso ver que você tem a sobrancelha esquerda levantada. Eu não posso ver, é claro. Mas adivinho muito bem! Tanto que agora você baixou só para fingir que é mentira. Levanta de volta, por favor? Eu adoro quando você faz assim! Para baixar esta bela sobrancelha com naturalidade, reservo-lhe o próximo parágrafo.

Por que você acha que os velhos possuem pêlos na orelha?

Mas cuidado. Pêlos! Eu disse: PÊLOS.

terça-feira, 5 de junho de 2007

um trecho da obra da senhora Clides, a mãe do Ewerton Clides (ele mesmo!)

Na escrita última, falei de minha mãe. Mulher talentosíssima, que não teria minha admiração, não fosse minha mãe. Talento é para gente preguiçosa. Eu a acharia preguiçosa, não a tivesse visto tirar todos os caroços todos os dias de minhas azeitonas, por exemplo.

Vou publicar um texto de minha mãe. Como não a admiraria se não fosse minha mãe, não publicaria o texto da senhora Clides, fosse a senhora Clides a senhora Holmes. E como sou mencionado no texto - talvez seja por isso que o publique - como filho, eu não o publicaria se ela não fosse minha mãe. Imagine se na hora que fosse o filho referido, estivesse escrito Ewerton Holmes - seguindo, ainda, o exemplo da mãe com sobrenome Holmes.

"

Escrevo como quem tira caroços de azeitonas para o filho que adora caroço de azeitona. Ou seja, escrevo como eu mesma.

Meu filho tira caroço de azeitona de forma estranha. Todo mundo que já vi, tira caroço de azeitona, é para comer a azeitona. Meu filho, Ewerton Clides, gosta que se tire caroço de azeitona para admirar o caroço. E porque ele gosta de olhar, de só olhar, eu mesma tiro.

MAS DETESTO CRIANÇA MIMADA!

Então eu digo, que se o senhorzinho não comer ao menos um caroço, sabe o que eu faço? Faço o senhorzinho comer dois caroços! E o segundo vai ter que mastigar!

O marido reclamaria, mas morreu mesmo.

E se reclamasse, eu diria primeiro que é dente de leite! E depois, olharia feio, mas muito feio - sou muito feia, então meio olhar feio, é feio-feio -, e diria, por que morreu?! Morreu e agora vem reclamar?!

As lágrimas que estão neste papel servem para externar a terna mulher que sou.

A frase que escrevi na linha acima é para ninguém pensar que sou sapatão.

E vou escrever uma receita, porque mulher que não sabe cozinhar só pode ser sapatão.

Adianto também que é uma receita copiada. Que mulher que inventa receita, não é mulher.

INGREDIENTES:

massa


um teco de farinha de trigo
manda leite!
ovos
4 colheres (sopa)
sal a gosto

Recheio:

carne moída
2 colheres (sopa) de cebola picadinha ou ralada
½ tomate cortado em cubos

MODO DE PREPARO:

Mistura tudo e fica fria. Fica fria você, que a massa vai pro forno, junto com o recheio.

Fim da receita.

Deu uma trabalheira danada de copiar essa receita aqui, então é para fazer, ouviu? Ouviu?! Falo grosso, que é para você fazer mesmo! E me seguro para não dizer-lhe palavrão na sua cara macia de menininha! Vai ficar uma delícia, querida!

"

Senhora Clides - a mãe de Ewerton Clides

A reconstituição do tapa

A mão da minha mãe bateu em mim. E se fez plaft. Ah! Como eram rijas, minhas nádegas! Fiz cara de muchocho para dar dó. E mamã ficou com dó. E naquela tarde fui agraciado com um resplandecente e branco arroz doce.

Hoje, se a cena fosse se repetir:

- ficaria feliz demais! Porque minha mãe, a senhora Clides, estaria viva. É preciso vida para bater em nádegas.

- Mamãe viva, aos 112 anos, daria um tapa leve em minha nádega.

- Mesmo um tapa leve, eu não o suportaria sem dor.

Curtas experiências de vida a serem compartilhadas com quem me lê

Se eu, Ewerton Clides, gosto de viajar? Gosto. Gosto muito! Separo sempre as minhas cuequinhas, dobradas uma a uma de jeito excêntrico cuja dobra principal não coincide com saliências de nádega.

-

Ter oitenta e dois anos atrapalha porque a nádega perde capacidade em reter peso do corpo. Então dói o osso quando senta. E se meu gato vem pedir colo, digo-lhe que adoraria, mas ele aumentaria o peso conjunto e meus ossos reclamariam mais tarde.

-

Máquina? Só fotográfica.

quarta-feira, 30 de maio de 2007

história para Amorinha

Desculpe, mas eu, Ewerton Clides, simpatizei muito com a história que o André fez para uma criança.

"Havia duas zebras que eram gêmas siamesas. Eram presas pelo rabo. Sabe como que era possível saber como que uma era uma, e outra era a outra? É porque a primeira era preta e branca, e a segunda era branca e preta.

Aí, um dia eu as vi. Percebi que se irritavam muito por serem assim, tão grudadas. Viviam competindo para ver quem era a mais bonita. E ficavam super bravas quando alguém as confundia. Eu, de propósito, disse para a zebra preta e branca, que as faixas branco e pretas dela eram muito bonitas!

A parte preta da zebra preta e branca ficou igualzinha; mas a parte branca, ficou vermelha! E ela ficava tão bonita com raiva, que eu fiz isso mais vezes de propósito. Ela foi se acostumando, e o vermelho de raiva dela foi ficando clarinho, quase rosa. Chegou uma hora que nem fazia mais efeito.

Aí, eu olhei para o lado, e vi que a zebra branco e preta ficava triste que eu não falava com ela. Mais que triste, ficava era com raiva. E um amigo meu que olhava tudo isso de longe, disse que era muito bonito quando as zebras ficavam vermelho e preto juntas. Era assim: vermelho e preto, vermelho e preto, vermelho e preto (agora, passando para a outra zebra) preto e vermelho, preto e vermelho, preto e vermelho. Claro que eu só falei três vezes para ficar mais fácil de entender. Acho que cada uma tinha mais de cem listras.

Chegou uma hora e sabe o que eu fiz? Eu tirei o nó que ligava as zebras pelo rabo.

Depois de um mês, as zebras vieram juntas falar comigo. Disseram que preferiam antes. Disseram que estavam sentindo falta de quando sentiam falta de liberdade. Mas eu disse que zebras queridas, agora é só vocês andarem juntas. Que vocês podem ficar juntas o tempo que quiserem. Se quiserem ir ao banheiro, por exemplo, não precisam passar por aquele constrangimento todo!

Mas elas ficaram vermelhas e pretas (ou pretas e vermelhas?) (foi tão bonito!), e disseram:

- Amarra logo nosso rabo!"

sexta-feira, 18 de maio de 2007

FOOOOOOOOOOoooooooooom!

Eu sou um sujeito muito focado no que eu faço. Na minha vida inteira, nada pôde me tirar da sociologia. Sempre que eu estava escrevendo um texto sociológico, e vinha alguém interromper, eu dizia: - " ". Isto mesmo. Eu nada dizia! Pois que a pessoa ficava com cara de tacho e saía do meu caminho.

Mas acontece agora que não tem mais como ignorar. Eu bem tento, mas não dá!

É uma tal de Juliana. E ela nem vem a mim. Eu é que penso nela até quando não quero! Estava eu começando a teoria das teorias teorêmicas ewertonclidianas, quando penso Juliana. Ewjuliana.

Cansei, não consigo mais escrever nem isso. Juliana não sai de mim, Ewerton Clides. Nem se eu quiser. Nem se ela quiser! Por que isto foi ocorrer bem quando eu tenho oitenta e dois anos de idade? E por que eu fui ter uma influência logo agora, tão velho?

- Influêêêência, Ewertinho?

Sim, de Fauro Goares! Tamanha influência, a dele, que agora escrevo ouvindo Sidney Magal! E ainda deixo que me chamem no diminutivo! E só o primeiro nome! Tem alguma coisa muito errada.

Eu nunca gostei, mas é tão bom errar assim!

quinta-feira, 17 de maio de 2007

Gangorra múltipla, minha gente!

Eu, Ewerton Clides, passei um tempo ausente neste brilhantérrimo espaço. Tanto tempo, que volto e escrevo a palavra "brilhantérrimo" na primeira linha! Não é estrondoso?

E Estrondoso na terceira!

Mas falo disso para dizer que se estive ausente aqui, é que estive presente em outros lugares. É como uma gangorra múltipla, em que mais que duas crianças pudessem brincar. Não necessariamente crianças, podem ser adultos também, mas não creio que eles se divertiriam tanto. E a diferença de peso entre os adultos é muito maior, o que dificulta o andamento de uma gangorra, quanto mais uma gangorra múltipla!

Então, se uma gangorra está caída para um lado, está necessariamente elevada em outro!

Foi o que aconteceu nestes últimos tempos. Por eu estar fora deste espaço, estive mais presente em outros!

Vejam só o que não é a sociologia. Até uma gangorra ganha fator sociológico quando é inserida nela! E, além de fator sociológico, ganha lugares extras! Isto me dá uma taquicardia alucinógena.

Neste meio tempo, quebrei o braço. Mas meu editor não sabia disso, e veio buscar um livro que lhe havia prometido há algum tempo. Ele veio, viu que eu estava dormindo, e pegou a pasta em que tenho meus escritos. Sabe o que ele levou? Setecentas e vinte e nove páginas escrito "Eu, Ewerton Clides, amo a Juliana!". Com algumas variações, é óbvio.

NÃO! Eu sei que você pensou que as variações foram no nome! Mas nunca! Juliana estava em todas as frases. As variações foram na palavra "amo", que fora algumas vezes substituída por "adoro", "babo" e "passaria manteira e lamberia com arrepios no dedão em".

Eu sei que todos vocês sentiram falta de mim, mas eu não senti falta de vocês, porque a sociologia me ocupa inteiro!

(Fiquei vermelho porque alguém insinuou que a sociologia se chama, na verdade, Juliana)

quarta-feira, 2 de maio de 2007

"Vá, André, escreva lá tudo o que eu disser!

Primeiramente, apresente-se, como é comum. Mas deixe um espaço para que o leitor possa pular esta apresentação porque não é você quem interessa. Quem interessa sou eu, Ewerton Clides. Você interessa a mim, neste momento, para digitar tudo o que eu disser, já que quebrei meu braço. Te contei como foi que quebrei? Não vá contar para ninguém!

Estava eu cortando unhas do pé de pé, quando eu ia caindo de cabeça na privada. Como não queria chocar a minha cabeça brilhante na privada. Sem este risinho cínico!Brilhante não é pela ausência capilar! Brilhante pelas idéias, meu caro!

Pois que as unhas dos meus pés estavam crescidas e eu fui cortá-las. Como possuo imenso equilíbrio, dei-me à graça de cortá-las de pé: foi meu erro!

Ora, você deve ter estranhado que errei! Na verdade, uma barata que passava pelo lado de fora da janela me distraiu! Você também deve estranhar que eu tenha me distraído! É que tenho meus projetos de sociologia baratinóica! Então na verdade eu não me distraí, somente me concentrei a mais em outra coisa!

Eu ia cair de cabeça, e para não bater a cabeça, bati o braço! Assim, o braço quebrou-se! Quebrou-se o que era osso!

Por isso é que fiquei uma semana sem escrever neste ilustríssimo espaço! Desde o princípio disse a mim mesmo que não toleraria o passar de uma semana! Então sou obrigado a ditar minhas idéias a você! Espero que não estranhem!

Olha, silêncio, ouviu? Já fez a sua apresentação? Posso começar meu brilhante artigo? Posso? Posso mesmo? Você tem certeza de que pode acompanhar com seus dedos o ritmo de meus neurônios? Sabe quantos neurônios exatamente eu tenho? Eu também não!

Vá, comece!

Ilustres leitores! Como passaram esta semana perante minha ausência? Eu, Ewerton Clides, imagino que muitíssimo mal! Não somente imagino, como assim o espero! Se assim for, é um sinal de que a sociologia está sendo bem implantada para não ser jamais excretada!

Nesta semana, não escrevi aqui por motivos pessoais. E o que é pessoal não importa.

Olha, ditando não é possível. Sociologia requer dedos em sincronia! Quando muito, a mão em sincronia com o lápis, ou com a caneta. Quando eu melhorar do braço, escrevo eu mesmo. Passar bem!"