quarta-feira, 31 de outubro de 2007

A inveja é uma merda, portanto necessária

Muitos de meus conhecidos fogem do senso comum como se este fosse uma barata que mordesse, além de ser nojenta.

Eu, Ewerton Clides, sou o contrário. Eu não esbarro no senso comum, mas o persigo! Dependo dele como o músico depende do ouvido! Além do senso comum ser de fácil acesso, ele é o alicerce principal da sociologia. O senso comum é a aorta da sociologia! Ou a horta em que cada sociólogo cultiva no seu jardim para lhe rendem verduras sociológicas.

Eis que um amigo disse: "A inveja é uma merda!". A despeito do palavrão, é uma belíssima frase. Eu diria: "A inveja são fezes!". O efeito seria o mesmo, mas teria muito mais valor no mercado sociológico, já que seria divulgada como uma frase comum modificada pelo grande sociólogo Ewerton Clides.

Mas a grande diferença não é na semântica da frase. É no sentido que eu lhe emprego. O meu amigo diz que inveja é uma merda, como se fosse algo ruim, algo que melhor seria se não existisse.

E eu digo que inveja são fezes e digo que é preciso que faça-mo-la todos!

sexta-feira, 19 de outubro de 2007

Onde deus fez a goiaba?

Em nenhum lugar, porque deus fez a árvore - e esta, por sua vez, fez a goiaba.

Se este texto fosse escrito por outra pessoa que não um sociólogo, você não estaria lendo até agora, pois a pergunta foi respondida. Se fosse escrito por outro sociólogo que não eu, Ewerton Clides, você ainda não estaria lendo, porque os outros sociólogos não escrevem na internet, portanto a pergunta seria lida, você leria a resposta e pensaria: - Não continuarei lendo, já que não é o Ewerton Clides, o único sociólogo que escreve na internet.

Aí, leitor, um erro seria cometido. Eu não escrevo na internet. Escrevo em casa, em papel amarelado, a lápis. Quem o transcreve na internet é André, moço contratado que o faz sem amor. E assim prefiro, pois se fizesse com amor, este poderia tirar-lhe a concentração de minhas letras e pular algumas.

Falo de André para testá-lo. Para ver como ele se sente digitando sobre si.

Às vezes cometo erros propositais para reclamar de André. Coloco um n na frente de um p, não acentuo uma proparoxítona, critico um sociólogo, tiro o pingo do i, não fecho um parênteses... e depois, se encontro o meu erro cometido depois da transcrição, acuso André por ter ele cometido o erro. Se não encontro o erro, acuso André por tê-lo corrigido sem minha autorização.

Após os berros, ele me olha e diz:

- Tá, peço-lhe perdão, Ewerton Clides.

E eu ergo meu nariz, despeitado.

quarta-feira, 17 de outubro de 2007

Bom dia

Eu, Ewerton Clides, sou um sociólogo. E como não escrevi novidades nesta linha, posso passar várias sem me deparar com ela, a novidade. Acho melhor tentá-la no próximo parágrafo.

Eu, Ewerton Clides, não sou um sociólogo. Aí está a novidade! Mas, apesar de ser novidade, é também uma mentira. Melhor mesmo é iniciar o texto no terceiro parágrafo.

Eu, Ewerton Clides, não gosto de poesia. A acho sempre inútil e com perdas de tempo, com frosô, com firulas que gastam meu escasso tempo.

Mas estava eu passando por uma esquina, e uma voz me soou:

- Bom dia, Tristeza.

E eu, Ewerton Clides, sem ter por onde me esquivar, lembrei-me de como se responde no interior a quem lhe é sempre presente:

- Dia.

Formigas afogadas

Certa vez, quando eu, Ewerton Clides, tinha vinte anos, uma das serviçais de minha casa derramou água em minha fazenda de formigas. Morreram todas, e afogadas.

É claro que chorei. E é claro que só o fiz quando ninguém olhava. Chorei às pitangas pelos cantos, lamentando as formigas que nos cantos já não estavam. Nunca mais eu poderia impedir a fuga daquelas formigas.

- Mas Ewerton Clides, por que você não comprou outra fazenda de formigas?

Não comprei, porque eu sentia falta, repito, daquelas formigas, não de formigas simplesmente.

Porém, não sei se a época das pitangas se foi. Mas acontece que parei de chorar às pitangas. E nesta hora, o leitor menos arejado, mais distraído, poderá pensar que "o Ewerton Clides agora está bem! Agora o Ewerton Clides não está mais triste."

Engano do leitor, tão relapso, tão indolente.

Leitor, aprenda comigo, Ewerton Clides.

Há uma grande escala que vai da tristeza profunda à alegria suprema. E sempre estamos situados em algum ponto no meio desta escala. A gente chora, leitor, quando desce. E quando lê um livro de sociologia, ou se está apaixonado, esta sensação é a de subida.

E depois, se pára de chorar porque se acostumou com a vida triste sem a fazenda de formigas. Se parou de chorar, mas se vive muito mais triste.

terça-feira, 16 de outubro de 2007

A parábola

Muitas vezes falei da graça que se há em simplesmente dizer xixi, cocô ou catota.

Não que eu, Ewerton Clides, ria desta graça. Mas posso vê-la, ali, no meio da palavra, entre uma letra e outra. É claro que acham graça disso por uma reverberação dos instintos da infância.

- Ewerton Clides, você acha graça de quê?

Detesto interrupção nos meus textos. E mesmo que esta pergunta não viesse de uma interrupção, não a responderia. Porque hoje é dia de falar de urina.

Tomei o cuidado para não dizer xixi, que nada tem a ver com urina. Urina podia mesmo ser o xixi da criança, mas não é. Urina da criança é urina da criança, enquanto xixi é feito até por adultos. Vamos às diferenciações.

O que está dentro do potinho é urina, para crianças e adultos. O que é dito para se achar graça, é xixi.

(A cor dos dois é a mesma, mas o xixi pode ser amarelo claro quando a urina é amarelo escuro, e a urina pode ser amarelo escuro quando o xixi é amarelo claro. É claro que o xixi pode ser amarelo claro quando a urina é amarelo claro.)

Gosto de dizer que o xixi é o que é mencionado por um civil, e a urina é líquido amarelo proveniente de uma bexiga, mencionada por um sociólogo.

Então eu urinava de porta fechada. Percebe a redundância? Porque eu, Ewerton Clides, sempre urinarei e sempre urinei de portas fechadas. E o problema, leitor, não seria que me vissem com algo na mão expelindo líquido amarelo. O problema são o barulho e a parábola desenhada na trajetória. Se alguém visse, se alguém ouvisse! A sociologia seria outra.

E uma vez que alguém já teria ouvido, não teria mais razão em isolar acusticamente meu banheiro, e minhas habilidades de se urinar no escuro seriam em vão!

sexta-feira, 12 de outubro de 2007

Se sou contra a guerra?

Comumente perguntam a mim, Ewerton Clides, se sou a favor da guerra.

Eu assusto-me com o teor da pergunta, e apresso-me a dizer que não, que sou contra a guerra!

Digo que não é bom que se matem crianças, ornitorrincos, mulheres, formigas, et´s, homens, baratas, cães, gatos, porquinhos da índia - mesmo quando a guerra não é na Índia - e chinchilas, por conta de motivos políticos. Digo que não há razão para se destruir hikebanas, bonzais, prostíbulos, fazendas de formigas, formigueiros, piercings no umbigo, óculos coloridos, e até ventiladores, por motivos políticos.

Mas quando me lembro que na guerra, os americanos matam pessoas anti-sociológicas, exibo um sorriso aristocrático, e volto à posição original o dedão que mexi para combater a guerra.

quinta-feira, 11 de outubro de 2007

Anotações dispersas do diário de Ewerton Clides

Pequena nota da assessoria de imprensa: O sociólogo Ewerton Clides abriu, pela primeira vez em 83 anos, os seus diários para divulgação na mídia impressa.

em 21 de maio de 1958

Meu nome é Ewerton Clides, e não há nada em mim que tenha vindo de Itabaiana.

Eu gosto muito de Itabaiana. Esta cidade possui, acima de tudo, um belo nome. Pessoas, não sei, pois nunca fui a esta cidade e, principalmente, nunca li nada a respeito. A pessoa que nasce em Itabaiana seria duas vezes baiana, se Itabaiana da Bahia for.

em 23 de abril de 1947

A Revolução Francesa tem, para os burgueses, a mesma relevância que o gol tem para o futebol. Mas a minha pergunta é: - "Futebol? O que é isso?" O maior problema, maior de todos, mesmo, é o de que quando propus uma pergunta, fiz duas. Duas perguntas querendo perguntar uma coisa só.

É tanta coisa a se aprender...

em 23 de novembro de 1978

Alguma coisa maravilhosa acabou de acontecer.

Acordei, conferi meu grau de toxinas, e este estava normal. Então verifiquei se a classificação alfabética estava bem feita em minha biblioteca. Perfeita.

Chamei meu mordomo, e ele respondeu que não havia guerra nova. Liguei o noticiário e vi que não havia leite em cima da mesa. As lâmpadas de minha casa funcionam perfeitamente, e os espelhos refletem a mim, Ewerton Clides, quando neles em frente estou.

Recorri ao máximo de meu orgulho, e não olhei o horóscopo do jornal, apesar da insitência do mordomo, já citado nesta nota. A sociologia vem em primeiro plano, mas é a primeira vez que ela não me explica uma dúvida. Está tudo tão esquisito.

Abri a correspondência e fiquei com a impressão de ter lido, no meio da carta: "Boa nova do Rio Grande do Sul".

em 41 de junho de 1994

Continuo prolongando junho para não acompanhar a Copa do Mundo.

Calça

A calça me é essencial.

Dizem que ela surgiu porque era necessário que não se passasse frio nas pernas... Encerrei a frase anterior com reticências, foi possível reparar? As reticências devem ser a maior causa de suicídio! Porque quando se termina uma frase de reticências, percebo uma ironia forçada e macabra. Imagino a pessoa que encerrou a frase apresentando o semblante mais maroto que tem, com pose contorcida, polegar e dedo indicador abertos e movimentando-se indo e vindo, olhando-me de canto do olho.

Vocês não têm nojo disso?

Mas de reticências, falo depois... Agora é a hora do segundo maior nojo. O nojo que tenho de pernas à mostra!

As calças não foram feitas para que se proteja do frio. Eu as uso quando está quente, também! A calça foi feita para nos protegermos dos pêlos, dos rabos de meia, dos suores e dos odores provenientes de parte do corpo tão ingrata!

Eu, Ewerton Clides, vou de calça!

terça-feira, 9 de outubro de 2007

nota da assessoria

Ewerton Clides é pego amarrando o cadarço do sapato

Na tarde desta terça-feira, no sol da cidade de São Paulo, as ruas do Centro viram algo inusitado e raro: Ewerton Clides amarrando seu sapato.

Isto seria muito costumeiro, não fosse a insistência de Ewerton Clides em toda sua obra na desnecessidade em se amarrar sapatos. "Creio que só amarra os sapatos quem tem sapatos, mas mesmo assim amarrá-los é risível, pois as pessoas se abaixam para um serviço ridículo!" é dito em trecho do livro "Rabujento, bujudo e pachorrento, mas com um sorriso abominável: sociologia", de Ewerton Clides.

"Amarrei porque compus outra teoria que complementa a de outrora. Nessa teoria - a ser lida no meu próximo livro, "A-tchim, um espirro sociológico" -, amarrar o sapato já não é risível, senão necessário!", diz Ewerton Clides.

Ewerton Clides não pretende amarrar mais os sapatos hoje, porque, segunda confidenciou, amarrou muito bem nesta tarde, "chegando até a doer um pouco a parte de cima do pé!", completa.

segunda-feira, 8 de outubro de 2007

nota da assessoria

A assessoria de imprensa de Ewerton Clides informa que Ewerton Clides pediu para que seja divulgado que ele possui, sim, pêlos no dedão pé.

Este mistério iniciou-se em 1967, quando Ewerton Clides - à época um dos maiores combatentes ao uso de filtro solar na ausência de praias - escreveu o livro "E se eu tivesse pêlos no dedão do pé?"

O título gerou por si só um grande interesse do livro, não bastasse o agudo interesse sociológico já produzido por o livro simplesmente ter sido escrito por Ewerton Clides. E quando respondia a insinuações contra este título já insinuante, Ewerton Clides corava e dizia que sempre utilizou meias, que bastava tirá-las para saber.

Em 1968, quando o livro seguinte de Ewerton Clides foi lançado (A sociologia na alcova), os rumores de pêlos no pé cessaram, e ninguém mais perguntou sobre isso de modo tão efusivo.

E agora, como para solucionar um mistério que já era desinteressante, Ewerton Clides chama de novo as atenções a si com algo que não possuía mais relevância.

Macambúzio

Eu, Ewerton Clides, pude ser visto macambúzio na última coluna social.

Meu motorista, ao ver a foto na revista, disse:

"Desmacambuza, Ewerton Clides, Desmacambuza! Porque veja, meu chefe. Você é o único sociólogo que tem um motorista com nível superior completo. Você é o único sociólogo que não precisa interromper elocubrações sociológicas ao entrar em seu veículo. Nunca vi você dizendo, bom dia, Jarbas, como vai? Porque isso seria a maior perda de tempo. Você tem é que estar satisfeito. E também porque você tem um motorista, no caso eu, Jarbas, que mudou o nome para ser seu motorista.

Eu me lembro direitinho. Eu chegando aqui, concorrendo para a vaga, e você disse, pára, Astrogildo, pára! Você vai ter que mudar de nome, porque Astrogildo não é nome para motorista. Você agora vai se chamar Jarbas.

E não fui eu quem fiz um crachá com meu novo nome somente para agradar o senhor?! Lembra, Ewerton Clides, lembra?"

Ele continuou o discurso com a idéia fixa de que eu não deveria andar com o ar soturno simplesmente por ter um excelente sócio-motorista. E sem querer, esta voz fina me deu uma idéia tentadora:

- Astrogildo, você está demitido. Você não tem a clara intenção de me deixar feliz? Pois a sua demissão neste momento me trará uma alegria imensa! Adeus.

Astrogildo parou o carro no canto da avenida, e eu não sei dirigir.

Unhas

Eu, Ewerton Clides, prefiro roer as unhas do que utilizar trins. Entenda a lógica do processo.

Quando eu utilizava trins, estes trins eram disputados como os anéis de uma princesa egípcia. Os grande críticos de minha obra irão objetar que não havia princesas no Egito. E eu mostrarei mais uma vez como são idiotas, estes críticos.

"Queridos Críticos,

Escrevo-lhes para dizer que justamente por não haver princesas no Egito, uma princesa que houvesse seria muito rara, portanto um anel dessa princesa seria raríssimo, portanto muitíssimo disputado. Sim?

Agradecidamente,

Ewerton Clides"

Então eu utilizava um trim cotidianamente e o deixava solto em cima de minha mesa. E o trim não era mais visto, pelo menos em minha mesa.

Poderia tentar comprá-lo pela internet? Não, porque na época não havia internet. E mesmo se houvesse, não conseguiria comprá-lo de lá, pois quem o tivesse, jamais colocaria à venda!

Além disso, as unhas iam para o lixo todas juntas, sendo assim fácil de confiscá-las.

É por isso que as rôo. Rôo discretamente, e ninguém rouba meu trim. As unhas, as jogo discretamente em alguma fresta de minha mesa.

Dores estomacais?

Eu, Ewerton Clides, não sentia dor aguda de estômago.

- Pois o que levou você, Ewerton Clides, a ser internado por uma dor aguda no estômago?!

Amor.

Eu soube que uma pessoa muito querida de uma pessoa muito querida a mim, está internada. O que fiz, então? Simulei uma grave dor estomacal, a fim de ser internado perto da pessoa querida da pessoa que me é querida. Simples de entender.

O que não é simples de entender é como consegui ser internado no quarto justamente ao lado do quarto da pessoa, e assim ver todos os dias a pessoa querida.

Foram dezenas de livros sociológicos distribuídos a todos os médicos, autografados por mim, Ewerton Clides. Até livros de outros autores, eu autografei. Pensei que nunca faria isso, mas com esta necessidade, sequer pestanejei!

Pois que a pessoa nem sabe que a estou observando todos os dias de dentro de meu quarto. E ela também não sabe que qualquer privação de comida, que todos estes remédios ruins, acabam sendo divertidos - divertidíssimos - por eu estar a vê-la.

nota da assessoria - Ewerton Clides é internado com dor aguda no estômago

A assessoria de imprensa do grande sociólogo Ewerton Clides informa nesta nota que o próprio Ewerton Clides sofre de uma dor aguda no estômago e encontra-se internado.

"Sinto uma dor aqui, ó", diz Ewerton Clides, alegando que o estômago dói muito. Quando informado que apontava não para o estômago, senão para o rim, Ewerton Clides foi enfático: "Dói meu estômago! E quem ousar desmentir ganhará um livro de sociologia autografado por mim, Ewerton Clides!"

Ewerton Clides não tem previsão de alta. E, segundo ele próprio, Ewerton Clides, "quanto mais ficar aqui, melhor. Dor de estômago aguda tem que ser bem tratada!"

quarta-feira, 3 de outubro de 2007

[Banheiro Público

Eu, Ewerton Clides, fui ao banheiro público logo após o almoço. Acima do vaso sanitário, havia um aviso propondo que não se utilize o vaso sanitário como cinzeiro.

Foi nesta hora, enquanto urinava, que me lembrei de que fui convidado para um baile da terceira idade! Eu, esperto, sei que ninguém me convidou pelas minhas habilidades na dança. Pela minha simpatia, também não, porque não sou simpático! O que assombra, foi que não me convidaram pela minha capacidade sociológica. CONVIDARAM-ME PELA FAMA! Para os folhetos de divulgação terem escritos "O Baile da Terceira Idade terá a presença do grande Ewerton Clides!".

A raiva foi o primeiro sentimento a que pude me segurar, como se seguram nos postes e corrimões as damas famosas de cinema americano - em filmes antigos, claro - quando há uma grande ventania. Quando o vento passou, vi a sociologia triste em um canto, chorando. Ela chorava por eu ter me lembrado da raiva antes dela!

Ficou de bico por quatro dias.

Então pus-me a pensar sobre o baile da terceira idade. E aqui caberia um título entre parênteses, porque é praticamente um novo texto inserido em um texto maior. O texto, em seu começo, a partir do primeiro título, fica entre colchetes. E agora, entre parênteses, como numa operação matemática, o baile da terceira idade.

(O baile da terceira idade

Eu, Ewerton Clides, nunca participei de um baile da terceira idade. Mas já observei muitos, sendo eu observador em várias idades.

Quando criança, via no baile da terceira idade um grande acontecimento, por lá estar minha avó dançando ao centro. Ela fazia caretas e errava passos para chamar-me a atenção. E eu olhava para os flancos do baile, fingindo que não via em minha avó, quando na verdade via, chegando a me ofender quando ela não fazia nada.

Uma tarde não houve sinais. Fiz um bico do jeito que fiz há pouco ao saber do desprezo aos meus conhecimentos sociológicos. Minha avó foi falar comigo, e naquele dia não respondi. Mas no dia seguinte, abracei-a como nunca antes.

Pois foi pelo desprezo de minha avó que descobri a sociologia. Naquela noite, ao invés de ler um livro, escrevi um livro. E assim ingressei-me na sociologia ao contrário do jeito das pessoas comuns.

Bem. O baile da terceira idade é tosco como o das crianças. A diferença única entre os dois é a de que as crianças são toscas por quererem se aproximar aos adultos, e os velhos são toscos porque já desistiram de se aproximar aos adultos.

Mas prefiro o da terceira idade frente ao das crianças e ao dos adultos.

Frente às crianças, é fácil dizer. Porque as crianças são altamente influenciáveis. Os velhos lá estão apenas divertindo-se, dando amplas aberturas às demonstrações sociológicas.

E prefiro o da terceira idade ao dos adultos, porque os adultos são tecnicamente perfeitos. E como perfeitos, não cabe análise.)

Eu, Ewerton Clides, então dei a descarga, ocupado com outro pensamento.

Ora. O aviso para não se usar a privada como cinzeiro é pertinente. Mas é essencial pedir para não se usar os cinzeiros como privadas!]

Clipping Ewerton Clides

Ewerton Clides não nega: sua careca coça cada vez mais
Folia de São Paulo - edição impressa de 17/09/2007

Um dos maiores mistérios acerca da sociologia moderna foram desvendados em escutas telefônicas residenciais de Ewerton Clides. Em um colóquio com seu dermatologista, Ewerton Clides pergunta se é normal uma ascenção da coceira em sua careca.

O dermatologista, cujo nome não pôde ser desvendado pela voz, preponderou. Diz ele: "Isto não tem problema, Ewerton Clides, concentre-se em sua sociologia. Se estiver insuportável, receitar-lhe-ei um creme que faz a cabeça coçar menos, mas altera o desenvolvimento do cérebro."

Ewerton Clides, então, nada respondeu e involuntariamente proporcionou um aumento enorme de coceira em carecas postiças de seus fãs. "Agora os fãs de Ewerton Clides, que raspam o cabelo só para ficarem com a careca igual à dele, ficam coçando a cabeça o dia inteiro! Eu me irrito", relata o motorista de ônibus, João.

Ewerton Clides, no momento, passa bem, e deve responder a novas perguntas em coquetel próximo.

ps: O Instituto Ewerton Clides (IEW), por meio de sua assessoria de imprensa, informa as últimas notícias do próprio instituto, do próprio sociólogo cujo nome está inserido no nome do instituto, e possui, ainda, um clipping com as notícias que foram publicadas nos jornais das últimas semanas contendo as seguintes palavras: Ewerton, Clides, Instituto (somente anterior a Ewerton) e sociologia; e a sigla: IEW.

Informe da assessoria

Por meio de seu conselho regimental, o Instituto Ewerton Clides convida todos os sócios à presença de um coquetel (sem estripetise) em lançamento do livro Juliana e sociologia, conciliando amores. Além de Ewerton Clides, estará presente no coquetel, a Juliana que cedeu o nome ao livro, por isso será cobrada a taxa de R$92 para o pagamento de cachê.

Com o dinheiro recebido no coquetel - previstos R$920000 -, Juliana receberá dinheiro, sapatos e um belo colar de pérolas colhidas por Ewerton Clides - o sociólogo.

Linguagem

Eu, Ewerton Clides, andava pelo belíssimo centro da cidade de São Paulo. Mas não era por beleza, que por lá andava. Eu andava por necessidade de acompanhamento sociológico de um amigo.

Paramos. Era em uma ponte. E lá, observávamos um jogo de futebol jogado por meninos de rua. Sem meninas, ainda bem. As mulheres estragam o futebol, quando jogam.

Muitos dizem que sou homossexual, que detesto as mulheres. Dizem inclusive que eu prefiro croaçã de cocô a ter mulheres. Ora, meus caros. Eu não sou homossexual. E não sou heterossexual, na definição que esta palavra tem de o homem gostar e ter a necessidade de fazer sexo com mulheres. Eu gosto é de uma mulher, porém não faço sexo com ela.

Enquanto os meninos não marcavam gols nem criavam jogadas insinuantes, alguém estava ao meu lado gesticulando bravamente! Olhei-lhe com cara de quem pede para a pessoa parar de gesticular e começar a falar (foto desta cara no prefácio). Mas a pessoa gesticulou-me que não é capaz de falar, por isso gesticula letra por letra na linguagem de surdos.

- Você pode me ouvir? - perguntei.

A pessoa gesticulou alguma coisa. Esta coisa só poderia ser que sim ou alguma outra coisa, mas nunca que não. Porque se ela não podia me ouvir, não negaria a minha pergunta oral.

- Se pode me ouvir, faz que jóia com a mão, assim!

Ele não fez que jóia e saiu correndo. Somente porque fiz um movimento brusco e disse-lhe debaixo de meu bigode:

- Bu!

O meu primeiro emprego

Eu, Ewerton Clides, não creio que a melhor medida a se tomar quando um cachorro opera a pata, seja transformá-lo em um abajour. Também acho que a melhor forma de se tomar leite com nescau, seja utilizando de 7 a 8 colheres. Acredito, pois, que os melhores cofres são os porcos de barro. Acho redundante dizer que amor e sociologia combinam, quanto mais se o amor for por uma loira graciosa cujo nome comece com a letra jota. E, mesmo achando que quando um cão opera a pata, seja melhor não transformá-lo em um abajour, creio que é melhor ter fazenda de formigas a ter um cão.

Ah, minhas habilidades do lar! Meus conhecimentos sociológicos aliados à minha inventividade nata - e também sociológica - permitem que no lar, eu seja um exímio dono do lar. Se por uma tragédia eu nascesse mulher, isto deixaria de ser tragédia, e eu limparia as roupas sociologicamente com perfeição, embora sem nem saber o que é sociologia.

Sim, que a sociologia é rara nas mulheres, muito sabemos. Mas mulheres não precisam de sociologia, já que fazem charminho e utilizam os cabelos mais compridamente.

Vocês perceberam que o parágrafo anterior é falso, não perceberam? As mulheres precisam, sim, de sociologia, mas ninguém sabe por que não conseguem adquiri-la em sua plenitude.

Pois que um sujeito de 67 convidou-me para ser o governanto de seus filhos.

O mais novo, com 37 anos, não sabe uma linha de sociologia! Ele não sabe distinguir uma massa de pizza a uma massa de pessoas! E se acha um gênio. Deslumbrado de si, crê que a sociologia é tão inútil quanto persianas para um sem-teto. Ao que respondi-lhe que a sociologia é tão inútil quanto pintas quando se é uma joaninha!

Esqueci de dizer que são dois filhos. Portanto, o próximo de quem falarei é o mais velho. Chama-se Charles e já morreu.

Sobre tatus - com a possibilidade de se enlaçar outros animais da fauna

Um tatu pode sorrir, se divertir, dizer asneiras e até dar cambalhotas de baixo da terra. Porém ninguém saberá, porque ele estará debaixo da terra, e a probabilidade de alguém andar com um ultra-som para examinar tatus é muito, muito, muito reduzida.

Pois se um tatu viesse perguntar-me se deve continuar dando cambalhotas, sorrindo e se divertindo de baixo da terra, eu lhe diria: - Continue! Continue, meu querido tatu. Continue, mas me conte depois!

Da necessidade de um lápis em determinadas e específicas horas de um dia atribulado

Às vezes eu, Ewerton Clides, necessito de um lápis como uma criança necessita de uma bala de morango. Não que eu chupe o lápis e ele me faça elevar o grau de cerotonina no cérebro. E muito menos que eu saiba que é cerotonina. A propósito da questão anterior, não gosto do gosto de madeira e de grafite.

Mas vínhamos falando de minha súbita necessidade de lápis. Um lápis, minha gente, alguém me arranje um lápis! Porque pensamentos sociológicos vêm à minha cabeça em horas dispersas. E eu para segurá-los?! Necessito de um lápis.

E então, alguma pessoa solícita traz uma caneta. Eu disse caneta? Para trazer-me uma caneta, o sujeito tem que ter graves problemas de audição - ou de visão, no caso desse texto. O problema pode ser de visão também fora desse texto, porque o sujeito pode pegar uma caneta vendo nela um lápis. E então eu digo: - Você não possui tato?!