sexta-feira, 27 de julho de 2007

Dolores

Eu, Ewerton Clides, entrei em uma loja de conveniência que se localizava dentro de um posto de gasolina.

Do segundo pro terceiro instante dentro da loja, me pus a rir. A boa risada, como se sabe, pede apoio. Nunca vi alguém que risse uma boa risada sem se apoiar em algum lugar. Quando ando na rua com algum interlocutor, procuro apoiar-me nele para rir. Se estou em meu lar, procuro um móvel de madeira firme. A escada, como se sabe, já tem corrimão dos dois lados, o que possibilita que duas pessoas riam em par, da mesma coisa, sem se apoiarem. Será que ela, a escada, foi inventada por alguém muito bem humorado? Ou será que não, que só tem corrimão para ninguém cair pela dificuldade causada pelos degraus? Degraus causam o mesmo efeito da graça.

Mas lojas de conveniência não são para rir. Pelo menos boas risadas, não. E sabe por que eu ria daquela forma? Por estar sendo inconveniente dentro de uma loja de conveniência! E sabe por que fui mais inconveniente ainda? Porque derrubei um chiclete da estante na hora de apoiar a risada. E a minha inconveniência evoluía como um rocambole infinito! Pois eu ria mais ainda.

Porém, possuo auto-controle. Parei de rir assim que quis, e para pegar o chiclete que deixei cair da estante. Esta tarefa é fácil para mim, pois chão não me é distante.

- Mas Ewerton Clides, por que você riu pela primeira vez?

Não me lembro. Acredito que foi por um motivo de pouca relevância que culminaria numa risada mínima. Mas esta risada mínima foi que me fez pensar numa risada maior, e este pensamento, sim, foi muito engraçado.

Coloco o chiclete na estante, quando minha face se avermelha.

Uma senhora perguntou-me o porquê da graça. Ela disse que achava que a risada era incompatível à sociologia. E eu lhe disse que achava que aquela pescoço enorme fosse incompatível em uma cabeça tão pequena. Se isso era possível, por que eu não podia rir?!

- Hein, hein, hein?!

Ela disse que era por doença.

Como pude ser tão inconveniente, repito, numa loja de conveniências?! E lhe disse crer que estava no lugar certo, pois já que não possuía conveniência, era necessário que comprasse uma! Disse isso mirando já uma estante plenamente resistente e sem objetos em volta, pronta para suportar minha outra risada.

A conversa ia-se tornando menos e menos agradável. Ainda bem que ela tirou um livro escrito por mim, "Cocô mole em papel higiênico duro, tanto raspa até que fura", para pedir-me um autógrafo.

Com o livro no balcão, abri a terceira página, em cujo branco poderia escrever o autógrafo. Sabe qual era o nome dela?

- Dolores!

- Dolores?! Você é minha tia?

- Não! Por quê?

- Eu, Ewerton Clides, sempre desejei ter uma tia com o nome Dolores. Perguntei somente para ter, na vida, um momento de esperança de realmente possuir uma tia com este nome. Matematicamente, no momento entre a minha pergunta e a sua resposta, eu possuía 50% de chances de você ser minha tia. Pena.

Saí da loja de conveniência estupefato por entrar numa loja de conveniência e não ter feito nada que pudesse contar depois, em jantar com senhora Ursípedes. Fiz questão de me fingir de distraído e não autografar o livro de dolores, com rancores de ela não ser minha tia.

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