terça-feira, 31 de julho de 2007

Encontro casual

Eu, Ewerton Clides, possuo uma fazenda de formigas.

Nesta fazenda, há oitocentas e vinte e três belas formigas, além de trinta e quatro feias. Mas destas não posso me livrar, já que as outras formigas poderiam se sentir ameaçadas com mortes sumárias de outras, que são feias para mim, mas que para as outras formigas são, apenas, formigas.

Sábado último, enquanto fazia a catalogação da semana, estava na formiga de número 765, a Romilda. A de número 324 se chama Josefa. A 459, Marofa.

Como se percebe, todas as formigas de minha fazenda têm nomes femininos. É que eu, Ewerton Clides, não admitiria dar-lhes nomes masculinos enquanto são formigas - etimologicamente dizendo, uma palavra feminina.

Mas no catalogamento de Romilda, o número 765 lembrou-me escada. Ou seja: - hora de meu passeio.

Desci todas as escadas, abri a porta de meu escritório e trombro com uma mulher. Espantei-me pela trombada que foi uma trombada deliciosa! Mas que cheiro mais gostoso! É claro que este cheiro gostoso provinha dela, porque cheiro de perfume me dá alergia no nariz! E quem poderia ser senão a senhora Ursípedes?! E sozinha!

Neste momento, agradeci por toda a ordem dos acontecimentos mundanos. Senti que tudo estava a meu favor para que, às 17:23, catalogasse Romilda, de número 765, e me ocorresse de dar uma voltinha. Tudo. Agradeci a Pedro Álvares Cabral por naquele dia ter dito à sua empregada que queria frango assado. À empregada de Cabral que o desdizeu, e fingindo ouvir errado, fez frango cru. Aos convidados de Cabral que nunca comeram frango cru e reclamaram naquele dia, nunca mais comendo frango cru na vida todinha! E todo o prosseguimento destes acontecimentos, que graças a eles, pude trombar com a senhora Ursípedes neste sábado! Mas não somente a Cabral e seus próximos. Faço aqui uma lista de agradecimentos pelo encaminhamento mundano que permitiu o trombamento:

- Roberto Maratsumoto Hipólito, que pisou no cocô do cachorro e, para limpar o pé, o chão e ainda dar bronca no cachorro, demorou três minutos a mais para sair de casa. Agradeço ao seu cachorro também, cujo nome não me ocorre agora.

- Marcondes Habibi, cuja excreção anal não foi corretamente tratada e sujou o rio. Agradeço também aos governantes que acharam que era besteira um programa de saneamento básico na região de Marcondes.

- Juan Román Riquelme, em sua visita a Porto Alegre, que dizem ter feito um grande estrago! - Magnoteto Telépono Ingnioce, criança de seis anos que elogiou minha careca em Báli.

- Marcelino Uruguay, excelentíssimo inimigo de Urbina Freitas, que colocou meia suja em sua bolsa para causar-lhe vexame em reunião com o presidente. Agradeço ao presidente por não ter percebido o cheiro.

- Jo-a-kin, coreano nascido em maternidade precária. Agradeço a enfermeira que o deixou cair no chão assim que nascido. E ainda abono a culpa da enfermeira: a maternidade é precária, como já foi dito!

- André Ursípedes, que ao dar um pequeno arroto, tropeçou segurando uma lata e olhou com vergonha a todos em volta pelo tropeço e pelo arroto que saiu em som maior do que o planejado.

- Robierto Uguain, que teve um i colocado sorrateiramente em seu nome por:

- Magnânimo Silva, empregado de favor em um cartório que passava o tempo adulterando nome de crianças recém nascidas.

- Alfredo Jacu, que surpreendentemente gostava do nome.

E todas as outras pessoas, acreditem, vocês não são esquecidas por mim, Ewerton Clides. Agradeço-lhes por cada ato, cada palavra, cada coceirinha escondida em regiões pubianas, pois não fossem vocês, a senhora Ursípedes teria passado por meu escritório em tempo diferente que não aquele, e não haveria o encontrão.

Ela não me reconheceu. Andou com mais pressa e disse um palavrão - filho da puta - tão bonito, que a citação de hoje é dela.

"Filho da Puta" Juliana Ursípedes

A catalogação das formigas foi suspensa.

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