quarta-feira, 25 de julho de 2007

Espinhas

Marcos, um transeunte qualquer, perguntou-me na última sexta-feira se sou feliz.

Mais feliz eu seria se um sujeito com o nome de Marcos não me interpelasse para perguntar se sou feliz. Da mesma forma que eu teria muito menos espinhas se permitisse à minha empregada faceira que as tirasse. Mas não a permito por crer que o toque em um sociólogo é desconfortavelmente desmistificador. E que ela venderia depois, a espinha de Ewerton Clides!

- Mas e a sua felicidade, Ewerton Clides?

Acho que ele queria uma espinha. Ofereci-lhe a face, com o lábio inferior dobrado, dando a entender claramente que me tirasse uma proeminente espinha que se localizava à lateral esquerda de minha testa. Mas ele nada fez.

Expliquei-lhe, então, que a minha testa se distingue do cocuruto vazio de pêlos pelo brilho - o cocuruto brilha mais. Mas também é fácil de notar que uma espinha jamais teria a ousadia de se localizar na minha testa. Se tivesse, eu, Ewerton Clides, pentearia o cabelo do lado esquerdo até alcançar o lado direito, cobrindo, assim, a careca. Mas isto seria feito em um caso propriamente atípico, pois não me agrada esconder meu cocuruto careca.

Um tanto enviesado, ele disse que não desejava tirar alguma espinha minha, senão saber se eu era feliz. Mas como eu havia lhe oferecido, perguntou por que eu mesmo não tirava as minhas próprias espinhas.

Vencido, olhei-lhe e disse: - "Sim, sou feliz."

Nenhum comentário: