sábado, 21 de julho de 2007

O moço sozinho

Eu, Ewerton Clides, sou um sujeito que ouve muito as conversas dos outros.

Certo dia, fui ao restaurante. Sentei sozinho na mesa, quando veio o garçom:

- O de sempre, Ewerton Clides?

O de sempre, claro. Então ele não trouxe nada, pois vou ao restaurante é para ouvir conversas.

Quando eu era um sociólogo menos conhecido, precisava escolher a mesa vazia certa para ouvir conversas sociologicamente concretas. Hoje, tenho uma mesa fixa. E as pessoas que almejam ser ouvidas por Ewerton Clides é que sentam perto de mim. Estes lugares são muito concorridos.

Mas na sexta-feira passada, algo intrigante ocorreu.

Um sujeito vestido de shorts e camiseta sentou-se na mesa ao lado da minha. Parei de ouvir todas as outras conversas para prestar atenção no sujeito. Pensei na motivação dele para sentar perto de mim, já que não podia ser ouvido, uma vez que estava sozinho e não tinha com quem conversar.

Pediu bife à milanesa.

Continuei absolutamente compenetrado, agora, mais no bife à milanesa, que ele cortava em fatias iguais - todas retangulares. Antes de pegar o primeiro bife, espirrou para o lado sem tirar as mãos dos talheres. Admirável!, para não contaminar os bifes.

Mas ele não começava a comer!

Pensei em Leonardo Da Vinci quando disse parla; em Givanildo - o jardineiro - quando disse corta; no rei da França, quando disse enforca; no rei de Piza, quando disse torta; no carregador, quando disse passa a mala; e em Napoleão, quando disse:

- Ataca!

O moço olhou a mim, Ewerton Clides, triunfante. Veio na minha direção com o prato na mão, e o colocou na minha frente, junto com garfo e faca.

Foi então que percebi que ele não desejava ser ouvido por mim. O que ele desejava, era falar comigo!

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